Ainda que hoje em dia a presença masculina na educação básica tenha crescido, as mulheres formam maioria nas salas de aula desta etapa escolar. De acordo com o último Censo Escolar, realizado em 2018, 80% dos docentes são do sexo feminino, num universo de 2,2 milhões de profissionais.
A antiga ideia de que a mulher deveria ser responsável pela educação das crianças vem sendo desconstruída aos poucos, com a entrada de mais homens nos cursos de Pedagogia no país. Mas o protagonismo feminino na educação também representou, desde o início da história brasileira, a emancipação e a luta por melhorias na formação de gerações de cidadãos e profissionais.
Para encerrar o Mês Internacional da Mulher, homenageamos as mulheres que atuam neste fascinante e desafiador universo que é a educação, apresentando (ou relembrando, para quem já as conhece) cinco educadoras, algumas contemporâneas e outras pioneiras, com trajetórias importantes não apenas na área da educação, mas também no ativismo social e na luta pela inclusão. Confira e inspire-se!
Nísia Floresta
Nascida em 1810 em Papari (hoje chamada Nísia Floresta, foi educadora, escritora, feminista e abolicionista. É conhecida como pioneira da educação feminista no Brasil e uma defensora da igualdade de gênero, em tempos nos quais estes temas ainda eram sequer discutidos..
Nísia era filha de pai português e mãe brasileira, e por conta dos movimentos independentistas que tomavam conta do Nordeste brasileiro àquela época, mudavam-se constantemente de cidade. Estudou em um convento de carmelitas em Pernambuco, que foi fundamental em sua formação pessoal e profissional, e seu futuro interesse pela educação.
Em um período em que as mulheres tinham pouco acesso à educação formal, Nísia chegou ao Rio de Janeiro em 1938 e, neste mesmo ano, funda o Colégio Augusto, que tinha uma proposta bastante revolucionária para a época.
Além de preparar as meninas para as “obrigações do matrimônio”, oferecia aulas de história, religião, educação física, artes, geografia, literatura e ciências. A abertura da instituição foi muito criticada pela sociedade da época, que considerava a educação da mulher como desnecessária.
Nísia escreveu mais de 15 livros e centenas de artigos defendendo o direito das mulheres e dos índios, a libertação dos escravos, e esteve durante toda a sua vida à frente de questões urgentes em sua época, tornando-se uma das mais importantes mulheres ativistas brasileiras.
Anália Franco
Entre 1853 e 1919, Anália atuou como educadora, escritora, ativista pelos direitos das mulheres e poetisa, na cidade de São Paulo. Em um momento que o país fazia a transição entre a monarquia e a república, Anália iniciou sua trajetória como professora, aos 15 anos.
Preocupada com a inclusão dos marginalizados e excluídos, Anália lutou pela criação de escolas fora da capital, estendendo o direito à educação — que então acolhia as elites econômicas — às áreas rurais do estado.
Por meio deste trabalho, a professora fundou centenas de instituições ao longo de seus 62 anos de vida. Foram escolas, liceus femininos, asilos, creches, bibliotecas, grupos de teatro, orquestras e oficinas de manufatura para mulheres, espalhados por São Paulo, na capital no interior. Todas estas realizações tornaram Anália Franco um dos nomes mais importantes da educação do século XX.
Antonieta de Barros
Professora, jornalista ativista pelo amplo direito à educação e da valorização da cultura negra, além de primeira mulher negra eleita no Brasil como deputada estadual, o nome de Antonieta de Barros é carregado de pioneirismo.
Nascida em Florianópolis em 1901, Antonieta também lutou contra o machismo e o racismo predominantes em seu estado natal.
Cursou a Escola Normal Catarinense, e após a formatura, criou um curso para alfabetizar a população carente, em 1922. O curso, batizado com o nome de Antonieta, acontecia em sua própria casa, e ela se dedicou a ele durante toda a sua vida. Foi também docente na Escola Complementar, no Colégio Coração de Jesus e também na mesma Escola Normal Catarinense que a teve como aluna, onde também foi diretora.
Além da atuação na educação, Antonieta foi jornalista e, em seus artigos e reportagens, tratava de temas como desigualdade racial e de gênero. Ela fundou o jornal A Semana, dirigiu a revista Vida Ilhoa e, sob o pseudônimo Maria da Ilha, escreveu o livro Farrapos de Ideias.
Interessada em política, passou a se corresponder com Bertha Lutz, pioneira do feminismo brasileiro, que dirigia à época a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino.
Dois anos depois da conquista do voto feminino no Brasil, Antonieta tornou-se suplente do engenheiro Leônidas Coelho de Souza, candidato pelo Partido Liberal Catarinense (PLC). Como Leônidas não pode assumir o cargo, Antonieta o fez e cumpriu o mandato de 1935 a 1937. Ela foi primeira deputada de Santa Catarina e a primeira represente negra numa câmara estadual no Brasil.
Dorina Nowill
Nascida em São Paulo, em 1919, Dorina foi educadora, administradora e filantropa. Perdeu a visão aos 17 anos devido a uma doença não diagnosticada, e desde então passou a atuar como professora e defensora dos direitos dos deficientes visuais.
Dorina fez o curso normal na Escola Caetano de Campos, tradicional instituição pública paulistana, mas naquela época ainda não existiam recursos para a formação de alunos cegos. Após a formatura, ela convenceu a instituição a criar o primeiro curso de especialização para o ensino destes estudantes.
Nesta mesma época, ela ganhou uma bolsa de estudos do governo norte americano para fazer um curso de especialização na área de deficiência visual, na Universidade de Colúmbia, em Nova York.
De volta ao Brasil, Dorina esforçou-se a criar a primeira grande imprensa braille do Brasil. Com o apoio do governo brasileiro, e a ajuda financeira e técnica da American Foundation for the Overseas Blind, nasceu a Fundação para o Livro do Cego no Brasil, em 1946, que atendia a demanda de livros em braille de todo o país.
Em 1991, a instituição tornou-se a Fundação Dorina Nowill para Cegos, que desenvolve um trabalho de referência em todo o mundo.
Dorina Nowill também colaborou pela elaboração da lei de integração escolar, fez parte do Departamento de Educação Especial para Cegos na Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, e envolveu-se em diversos projetos voltados à prevenção da cegueira.
Macaé Evaristo
Nascida em São Gonçalo do Pará, em Minas Gerais, Macaé Evaristo é considerada uma referência quando o tema é o diálogo com diversas áreas da educação inclusiva.
Inspirada pela mãe professora, ela iniciou sua carreira docente na rede municipal de Belo Horizonte, em 1984.
Trabalhou também na Secretaria de Educação da capital mineira, e nas secretarias nacional (2013 a 2014) e estadual (2015 a 2018) de Educação.
A educadora mineira é conhecida por seu engajamento em um projeto educativo onde caiba toda a diversidade brasileira. Para Macaé, apenas quando tornar-se capaz de entender e atender a coletividade da população, abarcando comunidades e territórios é que a educação brasileira será capaz de alcançar grandes avanços quanto à qualidade e inclusão.
Na última eleição municipal, Macaé foi eleita para atuar na Câmara de Vereadores de Belo Horizonte, onde pretende continuar seu trabalho de resistência, defendendo os direitos das mulheres, dos negros, dos quilombolas, dos indígenas e dos excluídos da sociedade, principalmente à educação de qualidade.
Compartilhe conosco outras educadoras que inspiram a sua atuação em sala de aula!
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