A primeira fase da educação infantil é quando os bebês e crianças começam a interagir com outros, a perceber o mundo dos sons, das cores, das brincadeiras e dos estímulos que o farão desenvolver a linguagem, a mobilidade e a cognição. Conversamos com a professora e coordenadora da pós-graduação em Educação Infantil: Investigações e Fazeres com Crianças de 0 a 3 anos, que visa formar especialistas que educarão alunos desta faixa etária cheia de descobertas. Leia a seguir.
Seria o brincar o grande centro do ensino das crianças menores?
Quando tratamos de crianças de 0 a 3 anos, é necessário considerar que educar implica também cuidar e brincar – os três verbos se entrelaçam indissociavelmente. O bebê humano nasce inacabado e, sem assistência de adultos, definha e morre.
Então, cuidar é básico para a sobrevivência, em um primeiro momento, e para o processo de se tornar uma pessoa. Cuidar inclui todas as ações que os adultos fazem junto aos bebês e crianças bem pequenas: alimentar, brincar, amar, cantar, conversar, trocar, colocar para dormir, banhar e mantê-las seguras.
Desde sempre, o bebê interroga o mundo. Sua ação sobre o mundo, sua maneira de conhecer a si, ao mundo físico e social, é através do brincar.
O brincar é a linguagem da criança, linguagem privilegiada da infância, que, como qualquer outra forma de expressão, é aprendida – os bebês aprendem a brincar com os outros, adultos e crianças que os circundam.
Você é autora de dois livros destinados à faixa etária a que se destina a pós-graduação, “O penico do bebê” e “Vamos tomar banho”. Você planeja continuar escrevendo sobre esta faixa etária?
Temos a intenção (eu e minha parceira, Lucila Silva de Almeida) de lançar um livro que trate das brincadeiras tradicionais para os menores, um livro sobre “brincos”. Os brincos são as primeiras brincadeiras musicais que os adultos fazem para entreter os bebês, como o “serra, serra, serrador” ou “bate palminhas, bate”, “janela, janelinha, porta, campainha”.
Muitas vezes elas envolvem movimento coordenado entre adultos e criança. Outra vezes, como no caso de “Cadê o toucinho que estava aqui?”, gestos do adulto no corpo do pequeno, convocando-o a brincar. Os brincos são as brincadeiras que surgem após os acalantos, quando cantamos para os bebês se acalmarem ou dormirem.
Por conta das vocalizações rítmicas que os caracterizam, os brincos introduzem os bebês na linguagem oral, no que diz respeito a seu papel comunicativo e expressivo, inserindo-os no mundo social.
As brincadeiras tradicionais farão parte do curso?
Sim, elas fazem parte do curso e aparecem em vários módulos. Não importa a idade, as brincadeiras tradicionais são uma das maneiras das crianças se apropriarem da nossa cultura.
A cultura oral brasileira é riquíssima, conhecê-la propicia aos pequenos um repertório de brincadeiras e, ao mesmo tempo, a construção de um sentido de pertencimento à nossa cultura.
A importância e a relevância dos textos de tradição oral podem ser medidas pela sua permanência na cultura e pela sua transmissão de geração a geração.
Em seu livro escrito em parceria com Ana Carolina Carvalho, “Como formar leitores”, o foco é estimular a leitura entre aqueles que ainda não sabem ler, por meio de análise de mitos sobre este tema levantados por professores. Em sua opinião, qual seria a forma ideal de introduzir as crianças menores no mundo das estórias e livros?
Introduzir as crianças no mundo da leitura literária significa ler para elas, e ler muito! Possibilitar que manuseiem os livros, que os explorem, que escolham suas leituras, conheçam muitos títulos. Que se encantem com as histórias, mergulhem na ficção.
Não existe forma ideal para introduzir as crianças neste mundo. O que existe são as experiências de viver situações em que a leitura literária e os livros são valorizados.
Então, quanto mais adultos importantes na vida da criança lerem para ela, quanto mais comportamentos leitores ela puder viver, melhor! Assim, é importante que as crianças possam conviver com livros e com leitura em casa, na escola, na casa da avó, dos tios, dos amigos. Quanto mais, melhor!
No caso do professor, é importante que ele seja um leitor proficiente, que tenha um repertório – sempre em construção, nunca concluído – de bons livros adequados para a faixa etária que atende.
Que ele tenha consciência de seus comportamentos leitores, de modo a partilhá-los com intencionalidade com seus alunos, percebendo-se modelo de leitor. Então, formar leitores é possibilitar o contato abundante com os livros e a leitura literária.
O que você espera que os alunos da pós-graduação “Educação Infantil: Investigações e Fazeres com Crianças de 0 a 3 anos” levem para a prática deles em sala de aula?
Espero que os alunos levem para suas práticas profissionais um olhar generoso para com as crianças, um olhar de aposta em suas capacidades de crescerem, se desenvolverem e aprenderem.
Que percebam a potência que existe no olhar inquiridor e investigador das crianças diante do mundo em que elas vivem e que elas estão apreendendo e aprendendo.
E que considerem as crianças sujeitos de direitos e atores de suas aprendizagens, e a infância como momento privilegiado a ser vivido intensamente pelas crianças, dispondo-se a dialogar, todo o tempo, com elas.
Josca Ailine Baroukh é mestranda da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), graduada em Psicologia pela mesma universidade, com especialização para professores de Educação Infantil e Ensino Fundamental. É coordenadora da pós-graduação em “Educação Infantil: Investigações e Fazeres com Crianças de 0 a 3 anos”, no Instituto Singulares.
Para saber mais: http://institutosingularidades.edu.br/novoportal/
Entre em contato: [email protected]