A importância do papel docente na sociedade é incontestável. No nosso país algumas pesquisas recentes apontaram que um número cada vez menor de jovens está considerando esta opção na hora de escolher uma profissão. Mas, para aqueles que se atrevem pelo mundo da Educação, há reflexões que podem ser feitas e vamos provocá-las aqui. Para tanto, responderemos algumas questões para quem pensa em seguir esta profissão.
Por que eu quero ser professor?
Algumas características são fundamentais para quem quer exercer a docência, como querer trabalhar com pessoas (crianças, jovens ou adultos) e gostar de compartilhar o seu próprio conhecimento. Do futuro professor também se espera que acompanhe as transformações que irão acontecer em seus alunos durante a aprendizagem, e que isso seja motivo de satisfação e realização.
Além disso, saber que essa sua profissão é necessária em qualquer lugar do mundo é estimulante. Isso pode levar à busca por novos conhecimentos a serem compartilhados, seja em que parte do globo se esteja, ou que área do conhecimento se lecione.
Existem outros disparadores que ajudam na decisão pela sala de aula. Um mestre inesquecível e inspirador, aulas que mudaram sua visão de algum assunto e outras situações de descoberta vividas na escola, para exemplificar.
Ainda há estudantes de Pedagogia que relatam querer ser professor porque no passado não gostavam da escola onde estudaram, nem da forma como as disciplinas eram ensinadas e, por isso, sentem uma genuína vontade de ser um profissional da Educação que exerça a sua prática de maneira diferente, positiva e transformadora.
Como deve ser o curso que irá me preparar para esta profissão?
Tomada a decisão de ser professor, chega a segunda (mas não menos importante) parte desta escolha: que tipo de formação promoverá a excelência profissional. As opções aos estudantes são muitas, e as queixas, também: a mais comum é que os cursos são muito teóricos, distantes da realidade da escola.
Cada instituição possui um projeto, do qual decorre uma metodologia em que a prática e o fazer do professor estão mais próximas ou não. A questão de cada projeto é definir como inserir a prática nessa formação. Ações e estratégias como a adoção de estágios desde o início do curso são fundamentais para o desenvolvimento da profissionalidade do futuro professor.
Por exemplo, no Singularidades deixamos claro aos alunos que buscam o curso de Pedagogia que prática não é sinônimo de “fazeção”, mas sim priorizar a reflexão sobre “como” e “para que” se faz, com qual intencionalidade e em qual contexto ou realidade.
As experiências na escola e as tematizações da prática preparam o futuro professor para os próximos passos. Nas licenciaturas em Pedagogia, Letras e Matemática , o estágio começa no 1º semestre, e isto faz uma enorme diferença.
Ir para a escola, vivenciar a rotina, encarar as próprias expectativas e a dos estudantes da Educação Básica desde o início do curso contribuirá para o docente em formação aprender a olhar para a escola a partir de uma perspectiva pré-profissional, questionando a realidade escolar, analisando-a e desenvolvendo uma postura propositiva.
É esta vivência que qualifica as reflexões, as investigações e as propostas: o que eu observo sobre como se ensina e como se aprende? Como é a realidade da escola? Como eu devo intervir nos diversos contextos e realidades?
O estágio, por meio das diferentes experiências, permite que o futuro professor aprenda a fazer perguntas sobre o que observa e busque respostas que darão sentido à sua ação. Fazê-lo em escolas diferentes (públicas, particulares, na Educação Infantil até o Ensino Médio e na Educação de Jovens e Adultos) possibilita um olhar real e apurado que será fundamental quando a sala de aula se tornar o seu ambiente de trabalho.
Quem são os futuros professores?
Como qualquer profissional, os educandos dos cursos de licenciaturas foi aluno da Educação Básica, esteve na escola, e, claro, traz essa experiência para a sua formação como professor. Para se tornar este profissional, essas vivências precisam ser tematizadas e resgatadas. São parte do autoconhecimento do futuro docente.
Um exemplo fácil para se entender é a do docente alfabetizador que, se não tiver clareza sobre como este processo se dá, reproduzirá o modo como foi alfabetizado, o que nem sempre é o mais adequado para aquele grupo de alunos.
O mesmo pode acontecer em outras situações em aula. Se isto é feito porque não se sabe o porquê ou como se faz, trata-se de um problema na formação deste professor.
As experiências vividas como estudante devem ser valorizadas e aproveitadas. Durante a formação inicial, futuros professores precisam retomar as suas experiências na escola e refletir sobre ela.
Essa possibilidade de autoconhecimento da sua biografia escolar influenciará nas decisões que ele tomará quando estiver exercendo a sua profissão.
Quando relatadas, compartilhadas, sentidas, entendidas e contextualizadas, as experiências passadas na escola (e na vida pessoal de forma geral) criam um ambiente favorável para que os membros da turma de estudantes compreendam como exercer melhor a sua profissão, identifique e reafirme sua identidade e construa seu projeto de desenvolvimento profissional.
E tudo isso já começa no dia em que se escolhe ser professor.
Ter uma atitude permanente de investigação, formulação de perguntas sobre si, sobre o outro e sobre seu fazer, além de sempre buscar caminhos para o sucesso da aprendizagem de suas turmas, são obrigatórios para um professor.
Por tudo isso, desenvolver-se e estudar para lecionar é um trabalho bastante exigente. Tornar-se um profissional qualificado é complexo e, ao mesmo tempo, transformador.
Cristina Nogueira Barelli é mestre em Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Pedagoga e Fonoaudióloga. É também autora de livros didáticos para alfabetização.
Para saber mais: https://institutosingularidades.edu.br/novoportal/produto/graduacao-em-pedagogia/
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