Como vem se dando a conversa entre universo das séries, dos quadrinhos, do cosplay, dos games e das grandes produções de cinema com a escola? Entre os 280 mil participantes da Comic Con Experience (CCXP) não haviam apenas adolescentes ávidos pelas novidades ou para ver seus ídolos de perto, mas também famílias com crianças, idosos e muitos adultos, entre eles, vários professores que buscavam uma nova resposta para uma pergunta que se repete a cada edição do megaevento.
Considerado o maior evento de cultura pop do mundo, a oitava edição brasileira da CCXP ocupou os 115 metros quadrados da São Paulo Expo durante quatro dias (de 5 a 8 de dezembro), na capital paulista, e surpreendeu os presentes com convidados (de protagonistas do novo filme da saga Star Wars ao elenco da versão cinemetográfica da Turma da Mônica), palestras e minieventos especiais.
A CCXP é um caldo de cultura bastante rico para professores de todas as áreas, que podem buscar no mundo pop referências ou inspirações para renovar suas aulas, aproximar-se de seus alunos ou propor novos olhares para os componentes curriculares que ensinam.
Pelo segundo ano consecutivo, a equipe do Instituto Singularidades esteve presente no evento. Conversamos com os coordenadores Marcelo Ganzela, da graduação em Letras, e Margareth Polido Pires, da Matemática, sobre os aprendizados e observações feitos por eles durante a CCXP, e como tudo isso pode ser trazido o universo da educação.
Que ganhos o professor pode trazer para a sala de aula ao se aproximar da cultura pop, a alma do evento?
Margareth: Um professor que se envolva, se inclua e se permita compreender a cultura dos jovens, suas nuances, personagens, subjetividades estará mais preparado para compreender as juventudes, e as necessidades de expressão e comunicação que elas buscam.
Isso os aproxima, criando cenários diversos e mais potentes para os espaços de sala de aula, novas abordagens, contextos mais significativos e propostas de projetos e atividades que poderão encantar e a fomentar mais a participação.
O que a organização de um evento nestas proporções e com atividades múltiplas acontecendo ao mesmo tempo ensina sobre a gestão de congressos e feiras escolares?
Margareth: Oferece pistas de que atividades que possam integrar múltiplas linguagens e culturas são bem aceitas e bem-vindas entre os jovens. Parece claro que o tom do diverso é favorável para a atenção e para a construção de referências, para ampliar conexões, para buscar sentido e significado num viés de integração.
Além disso, espaços como esses, que suportam tal variedade, se transformam em momentos bem importantes para o exercício da espera, do cuidado e da compreensão do direito do espaço do outro. O autoconhecimento, a empatia, a cooperação, a responsabilidade e a cidadania contidas nas competências gerais 8, 9 e 10 da nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), parecem particularmente envolvidas nesse processo.
Como o conhecimento informal dos quadrinhos, do cinema, das séries e de outros produtos culturais pode complementar o conteúdo formal dos componentes curriculares? Pode dar algum exemplo?
Marcelo: Todas essas modalidades são narrativas (incluindo os games) e aprender por meio delas é umas das maiores potências já comprovadas desde que a humanidade se entende como tal.
Essas narrativas não são construídas a partir do vazio, elas se pautam em vivências que os autores tiveram, e essas vivências se referem a conhecimentos construídos em nossa história.
Exemplos: a série Game of Thrones pode ajudar a entender melhor como funcionava o sistema feudal na Europa da Idade Média; muitas HQ’s e mangás trazem dilemas humanos para a discussão (questões filosóficas mesmo); o cinema pode ser gatilho para discussões sobre ciências, geopolítica e análise do discurso, entre outras áreas do conhecimento.
Como as diferentes formas de linguagem podem auxiliar a comunicação aluno-professor, uma vez que existem muitas expressões e gírias usadas por eles que vêm dos games, filmes, séries e quadrinhos que eles consomem?
Marcelo: Não há aprendizado sem que se estabeleça vínculo entre o aprendiz, o conhecimento e quem o ensina. [O pedagogo] Vigotsky já nos ensinou isso. E essa ligação se dá por meio de linguagem (ou linguagens).
As novas gerações estão muito mais imersas em um universo de multimodalidade e de múltiplas linguagens do que as gerações anteriores. Ao nos debruçarmos sobre esta forma de comunicar-nos, estamos dizendo aos jovens que estamos dispostos a dialogar com eles: damos o primeiro passo para estabelecer esses vínculos, essas trocas.
Marcelo Ganzela é mestre em Letras pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), especialista em docência para a língua inglesa e licenciado em Letras pela mesma instituição. É coordenador da Licenciatura em Letras do Instituto Singularidades.
Margareth Polido Pires é mestre em Ensino de Ciências pelo Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), bacharel em Física pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e licenciada em Ciências – Habilitação em Física pela Universidade de Bauru (UB) . É Coordenadora da Licenciatura em Matemática do Instituto Singularidades.
Para saber mais: https://institutosingularidades.edu.br/novoportal/
Entre em contato: [email protected]