Mal começou o ano de 2020 e fomos “atropelados” pela pandemia do Covid-19, vírus imprevisível que se mostrou letal para muitas pessoas. Com o objetivo de proteger vidas, houve a urgência de fecharmos escolas, cursos e faculdades. E, para não interrompermos o ano letivo, o ensino precisou de rápida adequação e reorganização para o modelo remoto.
Esse desafio sem precedentes exigiu do professorado a criação de novos jeitos de lecionar. E como esse ano afetou o desenvolvimento profissional dos docentes?
Segundo Marcelo Garcia* (1999, p.9), devemos “adquirir conhecimento profissional, além de conseguir manter um equilíbrio pessoal” sempre que vivenciamos um início em novas disciplinas, faixas etárias, instituições ou mesmo quando mudamos de níveis de atuação, independentemente dos anos vividos na docência.
Nessas ocasiões, experimentamos sensações e sentimentos semelhantes às do nosso início da carreira. Portanto, quando iniciamos o trabalho docente no ensino remoto em meio à pandemia fomos todos iniciantes.
Com a experiência vivida de praticamente um ano letivo, chega a hora de refletir: quanto aprendemos neste ano? Em um único curso não cabe tanto conteúdo. Quanto nós nos desenvolvemos profissionalmente? Algumas competências foram extremamente importantes. Destaco aqui três pares: adaptação e flexibilidade; tecnologia e inovação; e gestão emocional e liderança.
Adaptação e flexibilidade estiveram de mãos dadas para transpor um planejamento todo pensado para o presencial e conseguir rapidamente reformulá-lo para o ensino remoto. Nós ‘trocamos o pneu com o carro andando’. Precisamos avaliar e adequar nossas próprias condições para o trabalho, mas isso não bastou.
Ainda precisamos flexibilizar de acordo com as condições e necessidades dos alunos, desde a existência de recursos como smartphones e computadores e pacotes para o uso de internet.
O uso da tecnologia como meio de comunicação trouxe outros desafios, tais como, usar o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) como espaço potencial para organizar melhor as aulas, apresentar o conteúdo em diferentes linguagens, além de disponibilizar materiais de apoio da disciplina, rumo à personalização do ensino.
A corrida pelo saber mais mobilizou cursos e webinares dos mais diversos temas, fazendo com que muitos docentes alternassem seu papel em frente à tela do computador. Novos jeitos de aprender e de ensinar.
A inovação foi necessária para desenvolver novas maneiras de lecionar e criar formas de “olhar” cada aluno, avaliar, interagir, monitorar, incentivar. É interessante pensar se podemos levar algumas mudanças para a sala de aula presencial quando for possível o retorno.
E, mesmo com as piores notícias do país e do mundo, tivemos a necessidade imperiosa de manter o emocional equilibrado, o suficiente para conseguir exercer nossa liderança diante das turmas, manter alunos motivados e participativos.
Tudo isso se deu mesmo sentindo na pele o trabalho dobrado, preocupando-nos com a própria saúde e de nossos entes queridos e ainda sabendo que, em algumas situações, nem todos conseguiriam de fato participar das aulas.
Na reflexão deste ano sobre o desenvolvimento profissional dos docentes não podemos deixar de mencionar a criatividade. Diante das condições particulares de cada rede de ensino, tipo de instituição e as discrepâncias vividas por professores e alunos, o trabalho docente teve de ser inventado para o ensino remoto. Inventado, sim. Porque “reinventar” é tornar a inventar, mas como se reinventa algo que nunca foi vivido?
Agora já vivenciamos e somos outros perante a tela, mesmo que tenhamos saudades do presencial. Eu me inventei como professora no ensino remoto e aprendi muito. E você já pensou no seu desenvolvimento? Vale muito a reflexão.
*MARCELO GARCIA, Carlos. Formação de professores: para uma mudança educativa. Porto, Porto Editora, 1999.
Marta de Oliveira Gonçalves é doutora em Educação: Psicologia da Educação e professora do Instituto Singularidades.
O ano de 2020 foi um desafio para todos os professores. Como você repensou sua forma de ensinar? Compartilhe conosco!
Para saber mais: http://institutosingularidades.edu.br/novoportal/produto/neurociencia-na-escola-2/
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