Há tempos, o modelo de educação centrado no docente não atende às necessidades de parte dos alunos do século XXI, como comprovam diversas pesquisas acadêmicas. Além disso, a necessidade de escolas democráticas, que cada vez mais acolham todos os alunos e alunas tornou-se prioridade.
A pandemia, a adoção do ensino híbrido por grande parte das instituições de ensino devido à necessidade de medidas de cuidado e distanciamento social, além da consideração de espaços de aprendizagem alternativos reforçou a discussão em torno de novos modelos educacionais, que foquem nas relações entre os próprios alunos e alunas, e deles com o restante da comunidade escolar.
Essa discussão é bem mais antiga. Alphonse Ferrière, educador e filósofo francês, criou o movimento Escola Nova ainda no século XIX, defendendo a ideia de que a escola deveria permitir que a criança ou jovem fossem donos de sua consciência moral. Essa nova filosofia causou grande estranhamento e, ao mesmo tempo, muito interesse na Europa de então.
Aqui no Brasil, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova ecoou o movimento europeu, por meio da defesa de uma escola pública, laica e acessível a todos. Anísio Teixeira, considerado o patrono da educação democrática no nosso país, foi um dos grandes entusiastas da Escola Nova no Brasil.
Ainda falta um longo caminho para que propostas inovadoras sejam maioria no universo educativo, por razões políticas, financeiras, ideológicas ou estruturais. Mas para inspirar as professoras e professores a refletir sobre modelos que já existem em todo o mundo, trazemos hoje seis escolas centradas na autonomia de aprendizagem dos alunos, que adotam metodologias, espaços de aprendizagem e formas de gestão alternativos e promissores, mesmo algumas delas tendo mais de 60 anos de fundação. Relembre (ou conheça) estas instituições a seguir.
1 – Summerhill School (Reino Unido)
Fundada pelo educador escritor escocês Alexander Sutherland Neill (mais conhecido como A.S Neill), a escola existe há 97 anos. Desde 1927, a instituição está em Suffolk, cidade litorânea a 200 quilômetros de Londres.
A escola ocupa uma grande propriedade cheia de natureza ao seu redor, alunos, professores e funcionários convivem, buscando o equilíbrio entre responsabilidade e liberdade.
Henry Readhead, neto de A. S. Neill, visitou o Instituto Singularidades em agosto de 2018 e falou a alunas, alunos, professores, professoras e demais participantes presentes a respeito de sua experiência com a educação democrática, na instituição criada pelo patriarca da família. Sua mãe, ele e seu irmão também foram alunos da Summerhill.
A instituição funciona em regime de internato. Na visão humanista do fundador, cada aluno responderia aos estímulos da aprendizagem em seu momento, expressando sua curiosidade.
Na Summerhill, o currículo é formado pelas mesmas disciplinas que compõem a base curricular britânica, mas adaptadas às necessidades, ao ritmo de aprendizagem, ao tempo e ao interesse disponível de cada aluno.
Entre os alunos e alunas da Summerhill, os resultados no exame equivalente ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no Reino Unido têm sido excelentes, uma prova que a coragem de Neill em criar uma escola revolucionária, num momento especialmente complicado da história (logo após a Primeira Guerra Mundial) continua funcionando.
2 – Escola da Ponte (Portugal)
Fundada em 1976 na região da cidade do Porto, a Ponte tornou-se desde então um modelo de como a escola pode ampliar a voz e a autonomia de suas alunas e alunos, para que eles venham a trazer tudo isso sua vida cotidiana.
Lá não existe separação por séries: alunos de diferentes idades se unem para estudar um tema comum e, a partir dele, criar diferentes projetos que incluam as competências e habilidades exigidas pela base portuguesa.
Na Ponte, em vez de um único docente, alunas e alunos são acompanhados por um grupo de orientadores educativos, que se revezam de acordo com o tipo de projeto que os estudantes desenvolvem.
Alunas e alunos escolhem ainda um tutor, que não necessariamente deve ser uma professora ou professor, mas também um funcionário ou funcionária, uma mãe ou um pai, ou qualquer indivíduo da comunidade escolar, que o orientará durante o seu percurso de aprendizagem.
O nome da escola, Escola da Ponte define o seu projeto educativo: “fazer a ponte”, é formar indivíduos responsáveis, solidários, autônomos, comprometidos com o coletivo e com a melhoria do ser humano como um todo.
Criado pelo fundador da Ponte, José Pacheco, em parceria com outros professores, este ideário tão inspirador reúne estudantes de diferentes classes sociais e vindos de diferentes regiões do país.
Existem, inclusive, casos de famílias que chegam a mudar de cidade para que suas crianças tenham oportunidade de estudar nesta que é considerada uma das mais revolucionárias escolas do mundo.
3 – Altitude (EUA)
Desde 2013, uma proposta de escola chama a atenção de educadores, pais e teóricos da educação. Localizada em pleno Vale do Silício norte-americano, a Altitude (anteriormente AltSchool) oferece um projeto pedagógico centrado na criança e apoiado por uma plataforma tecnológica bem elaborada.
A escola foi fundada por Max Ventilla, ex-executivo do Google que ajudou a criar soluções como o Google+, a escola desenvolveu seu projeto pedagógico que, exceto pelo uso de ferramentas on-line, tem muita proximidade com as propostas da Summerhill e da Escola da Ponte: fortalecer a autonomia do aluno.
A Altitude propõe que a maioria das alunas e alunos tenha autonomia para trabalhar em seus projetos a seu ritmo, de acordo suas habilidades e por meio da interação com colegas. Existem oito unidades da escola, sendo sete em San Francisco e uma em Nova York.
Em cada unidade, as alunas e os alunos (de 4 a 14 anos) são divididos em três grupos: menor elementar, elementar superior e ensino médio. Diariamente, cada um deles acessa uma plataforma digital, na qual é possível checar sua programação semanal (conhecida como “set list”), suas refeições e outros detalhes pessoais.
Ventilla, que com a chegada de suas filhas à idade escolar passou a se interessar pela educação e por novos modelos educativos, considera que o grande desafio dos educadores de hoje é formar um indivíduo para as novas formas de pensar, atuar e agir.
4 – Ørestad Gymnasium (Dinamarca)
Uma sala de aula gigante, na qual cerca de 400 alunos do ensino médio aprendem. A proposta do Ørestad Gymnasium, em Copenhague, é encorajar alunas e alunos a colaborarem entre si em ambientes abertos, preparando a todos e todas para pensar de forma flexível e aberta sobre diversos tópicos da vida, presente ou futura.
Dirigida por Allan Kjær Andersen, a escola pretende oferecer uma forma de ensino no qual os estudantes façam pesquisas e trabalhem juntos na solução de problemas reais, em conexão com o mundo exterior.
O grande espaço aberto, adornado com “tambores” igualmente espaçosos para um ambiente de aprendizagem mais descontraído, incentivam os alunos a assumir um papel ativo na sua própria educação. As crianças se dividem em grupos e formam salas de aula improvisadas, às vezes com professores para orientá-las.
5 – Egalia (Suécia)
Baseado na igualdade total entre os alunos, este sistema de pré-escolas sueco é composto de duas escolas, Egalia e Nicolaigården, que rejeitam pronomes baseados em gênero, numa tentativa de fazer com que as crianças pensem umas nas outras em termos igualitários.
Em vez de “ele” e “ela”, as crianças são chamadas pelo primeiro nome ou chamadas de “eles”. Faz parte da missão evitar discriminação de gênero, religião, idade, classe, orientação sexual, expressão de gênero ou deficiência.
Todos os aspectos do trabalho diário com as crianças são baseados nesta igualdade, ensinando que elas aprendam a julgar umas às outras por suas ações, não por estereótipos, em bases democráticas e humanas.
6 – Escola Lumiar (Brasil)
A Escola Lumiar aposta em usar a tecnologia como aliada, sem deixar de lado os relacionamentos, a autonomia das alunas e alunos, e uma estrutura menos estanque de educação.
Inaugurada em 2003, a primeira unidade foi aberta em São Paulo, e de lá para cá vieram mais cinco unidades em diferentes cidades do país, com estudantes entre os 2 e os 15 anos de idade.
O cerne da proposta pedagógica da Lumiar é a autonomia da aluna e do aluno, que orientado e avaliado por tutores, tutoras e mestres, desenvolvem projetos de estudo em todas as áreas do conhecimento, duas vezes por ano.
Os docentes atuam como mentoras, mentores, orientadoras e orientadores dos alunos em seus projetos de estudo. Já as mestras e mestres são especialistas que são indicados pelos tutores e tutoras, que podem ser profissionais de diversas áreas, treinados para apoiar os planos dos estudantes.
Assim como na Altitude, alunas, alunos, professoras e professores da Lumiar contam com recursos on-line para ajudá-los em seu processo de aprendizagem. As Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) formam uma plataforma que une aplicativos onde o aluno verifica suas tarefas e faz pesquisas. O conteúdo das TIC muda a cada novo ciclo de projetos que se inicia na escola.
Como você pode apoiar seus alunos e alunas no processo de aprendizagem? Conte para nós nos comentários!
Para saber mais: www.institutosingularidades.edu.br
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