A discussão sobre devolutivas ou feedbacks vêm ganhando espaço na educação e trazendo importantes contribuições ao processo de ensino e aprendizagem. Mas, afinal, o que é um feedback ou devolutiva? De que tipos são? Quais as contribuições à educação?
Podemos dizer que são formas de comunicação entre quem ensina e quem aprende, visando à reflexão sobre os sucessos e as fragilidades do processo de ensino e aprendizagem.
Uma de suas contribuições a esse processo é a possibilidade da escolha de estratégias de superação das dificuldades e da valorização das potencialidades identificadas.
Outra contribuição é a demonstração de que o(a) estudante está sendo acompanhado(a) pelo(a) professor(a). Devolutivas e feedbacks também contribuem para a construção de parâmetros para a autoavaliação e para a tomada de decisões na resolução de problemas detectados.
Diferentes tipos e contextos dos feedbacks
Pesquisadores(as) mostram tendências de feedbacks avaliativos, que resumimos, aqui: os que comunicam resultados e desempenho acadêmico de estudantes, e aqueles que, além disso, também propõem alguma reflexão, problematizam, sugerem estratégias etc.
Ambos aparecem em contextos presenciais ou remotos e podem ser automáticos ou personalizados. Em qualquer das situações, é possível se fazer um feedback que não apenas comunica resultados, notas, mas também apresenta pontos para a reflexão, ajudando quem o recebe a avançar na construção do conhecimento esperado.
A pesquisadora Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva*, da UFMG, denomina feedback avaliativo aquele que trata do desempenho acadêmico do(a) estudante, e feedback interacional, aquele que registra a interação dos(as) estudantes ou entre eles(as) e professores(as). Ela ainda ressalta a importância dos feedbacks nas relações humanas.
Na conversa face a face, as expressões faciais e reações corporais ou verbais nos possibilitam prosseguir ou interromper a conversa, explicar, argumentar, mudar de assunto etc. Para a professora, são feedbacks de natureza avaliativa, em que o interlocutor concorda, discorda, duvida, apoia etc. ou interativa, em que ele demonstra atenção e interesse pela conversa.
Mas os feedbacks não acontecem somente nas relações humanas, explica a pesquisadora. Eles estão presentes nas interações com as máquinas, como o painel do elevador acionado mostrando o andar, a barra de progresso do download, os textos escritos “falta pouco” e a gravação que diz em quantos segundos você será atendido.
Para atualizar a lista, podemos incluir o sinal gráfico que indica se a mensagem do aplicativo de conversa foi visualizada. São artifícios que não nos deixam desistir dos objetivos naquele espaço de interação.
Essas situações mostram o quanto os feedbacks são importantes em nossas vidas, e na educação não é diferente. Porém, há especificidades para a educação presencial ou remota.
Desafios e possibilidades dos feedbacks em contextos presenciais e on-line
No contexto presencial, a interação face a face tem a vantagem dos esclarecimentos imediatos, de se observar a reação facial do(a) estudante ou do(a) professor(a) e de solicitar informações. São feedbacks frequentes e em via de mão dupla, além daqueles formalizados.
No contexto do ensino remoto ou da educação a distância, os feedbacks são ainda mais importantes para a demarcação das presenças tanto do(a) professor(a) como do(a) estudante.
Quem, em um curso a distância, nunca se sentiu falando sozinho em um fórum ou já não teve dúvidas se a tarefa postada foi vista ou não pelo(a) professor(a)?
Em situações como estas, feedbacks interacionais como “Trabalho recebido. Aguarde o comentário”, assim como mensagens que avisam a(o) estudante as tarefas por fazer são de grande importância na manutenção da interação.
Em contrapartida, que professor, usando recursos de aula síncrona, não duvidou da presença dos nomes que apareciam na tela, mas com a câmera fechada?
Se, por um lado, as ferramentas de aulas síncronas e com vídeo aproximam o ensino remoto da sala de aula presencial, por outro, não consideram acessibilidade, disponibilidade de conexão e de dispositivos compatíveis com esse tipo de ferramenta, plano de dados etc.
As câmeras fechadas inviabilizam os feedbacks visuais (expressões, postura), no sentido estudante-professor(a). E, se o(a) estudante não interage pelo chat, é o(a) professor(a) quem experimenta o isolamento que, antes destas ferramentas, atingia apenas estudantes, em cursos a distância.
Se, no ensino presencial, privilegiamos devolutivas orais, no ensino remoto ou híbrido podemos diversificá-las com registros em mídias de texto escrito, áudio e vídeo.
A escolha das melhores ferramentas para um feedback vai depender das especificidades de cada turma e das possibilidades de divulgação e acesso pelos estudantes, da idade etc. Apresentamos duas possibilidades que envolvem múltiplas linguagens e podem ser ajustadas a diferentes contextos:
Infográfico: privilegia quem aprende melhor visualmente, permite combinar feedback interacional (quantas tarefas entregues, quantas completas, as questões de maior dificuldade etc.) e avaliativo (completude ou aprofundamento nas respostas, relação com outras disciplinas, correção conceitual, qualidade da produção etc.).
Pode-se, ainda, discutir pontos e fazer indicação de aprofundamento ou revisão, além de ser uma oportunidade de leitura de textos multimodais.
Podcast: privilegia quem aprende melhor ouvindo. Também possibilita abordar aspectos avaliativos e interacionais e o tamanho do texto não é tão preocupante como em um texto escrito.
Nele, podemos comunicar e argumentar sobre aspectos positivos e fragilidades, assim como apontar aspectos relativos aos grupos ou destacar participações individuais relevantes.
O uso de vinhetas (sons diversos) favorece o tom mais ou menos lúdico, de acordo com cada turma, e separa os tópicos discutidos (como os parágrafos do texto escrito), além de ajudar na construção de sentidos (aplausos para aspectos positivos, sons de suspense para os que merecem maior atenção etc).
Nesses exemplos, assim como em outros formatos de feedback, cabe o cuidado de se observar se há no grupo estudantes que não enxergam ou não escutam, para a escolha de ferramenta e formato que não deixem ninguém de fora.
Afinal, como ferramenta de contribuição para a melhoria no processo de ensino e aprendizagem, o feedback torna-se um direito de todos(as) os(as) estudantes.
*PAIVA, V. L. M. O. Feedback em ambiente virtual. In: LEFFA.V. (Org.) Interação na aprendizagem das línguas. Pelotas: EDUCAT, 2003. p.219-254.
Jordana Thadei é pedagoga, psicóloga e mestre em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem (LAEL/PUC-SP), especialista em Ensino de Línguas Mediado por Computador (UFMG) e cursando especialização em Educação e Tecnologia, com foco em Design Instrucional (UFSCAR). É professora da graduação em Letras do Instituto Singularidades.
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