No mês de março fomos surpreendidos por uma doença que, até então, acompanhávamos pelos noticiários. Naqueles primeiros dias, sem orientações oficiais, fomos administrando a situação como era possível. A partir do dia 16 de março as aulas presenciais no curso de Pedagogia foram suspensas e passamos a aprender, dia a dia, o que nos pautou neste semestre: viver na incerteza. Com a suspensão das aulas presenciais, professores e alunos se viram em uma condição de vida desconhecida para todos. A vida acadêmica era só um pedaço das mudanças impostas.
Todos, professores e alunos, precisaram encarar a realidade que se apresentou. Nesse momento, o engajamento e o compromisso dos professores com a aprendizagem de seus alunos foram fundamentais. O vinculo de confiança já estabelecido anteriormente foi norteador.
Falar em aprendizagem pressupunha, acima de tudo, suporte emocional e material, os quais, muitas vezes, extrapolavam a condição objetiva que dispúnhamos. Muito trabalho, escuta, dúvidas e incertezas. Tudo vivido com muita intensidade. A profissão de professor é essencialmente relacional e estar aberto a isso nunca foi tão importante.
O que seriam alguns dias, transformaram-se em semanas e, depois, em meses. Os professores, que tinham um planejamento a ser desenvolvido, perceberam que nada funcionaria sem ter em mente algumas palavras de ordem: prioridade, flexibilidade e colaboração. Porém, o planejamento feito anteriormente mostrou-se como um componente significativo: a clareza dos objetivos de aprendizagem foi o que balizou a reorganização dos planos iniciais.
O monitoramento e ajustes contínuos marcaram os caminhos que eram trilhados, pois, a cada momento, novos cenários se apresentavam. Constantemente perguntas iam surgindo: Atividades síncronas e/ou assíncronas? Controle de frequência? Quais ferramentas digitais? Videoaula? Aula ao vivo? Chat? Padronizar as avaliações do fórum? Qual o parâmetro para dimensionar as tarefas e atividades com a nova rotina imposta para os alunos e também para os professores?
Junto com tudo isso os problemas de acessibilidade e conexão presentes, a falta de um espaço adequado para trabalhar e estudar, a sobrecarga de trabalho, a interação excessiva e possível somente pela tela, o receio com a própria saúde e com a saúde dos demais. Um esforço sem medida. Tudo muito intenso e incerto.
O semestre aconteceu e encerramos com muitas aprendizagens. O que nos pautou (prioridade, flexibilidade, colaboração, monitoramento e ajustes) permitiu alcançarmos uma estabilidade para dimensionar o ensinar e o aprender nas condições dadas.
Ao final do semestre foi possível um distanciamento para que, alunos e professores, olhassem para o que foi vivido nos últimos meses e fizessem sugestões para o que ainda está por vir, para aquilo que será possível emergir.
Essa estabilidade, em tanta incerteza, aconteceu porque os vínculos de confiança, que são premissas de qualquer espaço de aprendizagem, independente da modalidade de ensino, estavam bem constituídos. É nesse espaço estabelecido pelas relações de confiança que a aprendizagem se torna possível.
Para todos, a vivência foi muito além do currículo explicitado. O previsto e o previsível foram suplantados por outro modo de viver, de ensinar e aprender. De um modo inevitável, aprendemos muito mais do que podemos supor nesse momento.
Cristina Nogueira Barelli, coordenadora da Graduação em Pedagogia do Instituto Singularidades, é mestre em Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Pedagoga e Fonoaudióloga. Foi professora da Educação Básica. É também autora de livros didáticos para alfabetização.
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