Manoel de Barros é uma grande referência na educação brasileira por ter influenciado várias gerações de educadores não apenas da área de letras, mas em todas as outras. Considerado um dos maiores poetas da língua portuguesa do século XX, Barros é conhecido por usar a poesia como uma forma diferenciada de ver o mundo, por meio de versos cheios de inventividade e simplicidade, elementos fundamentais ao ensino, principalmente dos estudantes do ensino infantil.
Nascido em Cuiabá (Mato Grosso) em 1916, Manoel fez parte do Pós-modernismo brasileiro (também chamada de Geração de 45) e era próximo das vanguardas europeias. Aos 13 anos se mudou para Campo Grande, cidade que adotou como residência pelo resto da vida e onde construiria sua longa vida e carreira.
Foi lá que Manoel estudou em colégio interno e de onde se mudou, anos mais tarde, para cursar direito no Rio de Janeiro. Embora a poesia tenha estado presente em sua vida desde a adolescência, foi só na juventude que ele escreveu suas primeiras rimas. “Poemas concebidos sem pecado” (1937) foi seu primeiro livro publicado, feito artesanalmente por amigos, com uma tiragem reduzidíssima: 21 exemplares, sendo que apenas um foi reservado para o autor.
O futuro poeta foi filiado ao Partido Comunista, mas se decepcionou e abandonou a agremiação quando Luís Carlos Prestes, seu líder naquela época, apoiou a eleição de Getúlio Vargas, que tinha mantido o político na prisão e entregue sua esposa, Olga Benário, que era alemã, ao regime nazista.
Desesperançado com os rumos da política brasileira, Manoel foi com a mulher, Stella, viver um período entre a Bolívia, o Peru e Estados Unidos. Na cidade de Nova York, Manoel realizou um curso de cinema e pintura no Museu de Arte Moderna, área na qual ele nunca veio a atuar.
Depois do exílio forçado, volta em meados dos anos 60 para Campo Grande (MS), onde passou a viver como criador de gado. Mas a poesia não o deixou: nunca deixou de trabalhar incansavelmente em sua poesia. Morreu aos 97 anos, deixando uma vasta obra, que inclui mais de 30 livros (entre eles o conhecido “Livro sobre Nada”, de 1996) e mais de 20 prêmios literários nacionais e internacionais. Seus livros foram traduzidos em seis idiomas.
Por ser recluso e preferir a vida pacata do Mato Grosso do Sul ao burburinho da cena literária do eixo Rio-São Paulo, Manoel de Barros nunca foi muito conhecido do grande público. Ele costumava dizer que preferia manter essa postura “para não ter de bajular ninguém”.
A poesia como “criançamento”
Manoel de Barros dizia que a poesia é “voz de fazer nascimentos”. Ele tratava a infância como um espaço da liberdade, de brincadeira, e seus versos, como “o criançamento” das palavras, uma maneira de criar e jogar com elas. Por isso ele é lembrado por muitos como “o poeta das infâncias”, já que em sua trilogia “Memórias Inventadas” defendia a ideia de que a vida se divide em três períodos de infância.
Ainda que não se dissesse “autor infantil”, Manoel escrevia com foco numa infância verdadeira, aquela que qualquer pessoa viveu e da qual se lembra com carinho e saudades. De seus primeiros anos, ele relembra sons, cores e sensações que emocionam e envolvem tanto adultos quanto crianças. A ressignificação daquilo que nos rodeia e a exploração da curiosidade infantil são característicos de sua obra.
Por tudo isso, ainda que não tenha atuado como educador em sala de aula, Manoel de Barros foi um pensador do olhar da criança (ainda que crescida) sobre um mundo em que a sinestesia domina: há cores escutadas, verbos delirados, passarinhos que cantam, cheiros e canções azuis e vermelhas. E um exemplo de conceito que é amplamente usado por muitos educadores seria o “transver”, o ressignificar, que está presente em várias das metodologias ativas e na transposição didática:
“A expressão reta não sonha.
Não use o traço acostumado.
A força de um artista vem das suas derrotas.
Só a alma atormentada pode trazer para a voz um formato de pássaro.
Arte não tem pensa:
O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê.
É preciso transver o mundo.”
Trazido para a educação, o rico e belo universo da poesia Manoel de Barros formou com ela um amálgama muito forte, que estimula o brincar, o imaginar, o sonhar e o existir. Até o fim da vida, foram esses os temas de seus textos tão transbordantes de vida e inspiração.
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