Criador de conceitos pedagógicos usados mundialmente, como as aulas-passeio (ou estudos de campo, como são conhecidos hoje), os cantinhos de atividades e os jornais de classe, o pedagogo francês Célestin Freinet é um nome fundamental quando se fala da educação contemporânea.
Freinet se identificava com a corrente Escola Nova (ou Escola Moderna), que era contrária ao conservadorismo vigente no começo do século XX, e foi um dos idealizadores das chamadas Escolas Democráticas. Ele acreditava que o ambiente social no qual o estudante estava inserido era tão importante quanto as técnicas pedagógicas usadas em sala de aula, e o aluno era, antes de tudo, um ser social.
Para o pedagogo, o trabalho do professor deveria ser alternado com a participação na sociedade, fosse por meio de atuação em associações, conselhos ou grêmios, utilizando a educação na busca de um mundo mais fraterno e respeitoso. Segundo Freinet, “a democracia de amanhã é preparada na democracia da escola.”
Aos 18 anos, quando cursava o magistério, o futuro educador teve de deixar os estudos para lutar na Primeira Guerra Mundial. No campo de batalha sofreu uma lesão pulmonar por inalação de gases tóxicos, o que tornou sua saúde frágil para o resto da vida. Esta difícil vivência também o tornou um pacifista.
De volta à França, Freinet começou a desenvolver seus métodos de ensino, atuando como professor-adjunto em Le Bar-sur-Loup e docente em Saint-Paul, ambas em sua Provença natal.
Como tinha dificuldade para falar por longos períodos devido ao seu problema pulmonar, Freinet comprou um tipógrafo para imprimir textos para os seus alunos e ajudar seu trabalho em sala de aula de aula.
Desta inovação surgiu uma de suas práticas mais utilizadas até hoje, os jornais de classe. Em grupos, os alunos criavam seus projetos, da discussão da pauta, passando pela redação e a edição, e depois apresentavam o resultado ao resto do colegas e ao professor.
Junto a outros professores de sua cidade, o professor criou uma cooperativa de trabalho que deu origem ao movimento da Escola Moderna em seu país, em 1924. No ano seguinte, conheceu a artista plástica Élise, que se tornaria sua ajudante e sua esposa em 1926. O casal teve uma filha, Madéleine.
Com métodos de ensino distantes do que pregava o governo francês, Freinet era olhado com desconfiança pela comunidade escolar. A troca de correspondências com outras escolas como intercâmbio de experiências era vista com reservas, o que gerou sua demissão da escola onde lecionou por tantos anos.
Em 1935, ele e Élise abriram sua própria escola, que inspirou a criação da Liga da Educação Francesa. A entidade passou a utilizar a proposta pedagógica de Freinet, influenciando a reforma do ensino francês.
Cinco anos depois, Freinet foi preso e enviado para o campo de concentração de Var, em território francês, onde sua saúde se degradou ainda mais. Enquanto estava detido, ensinava seus companheiros, enquanto fora dali, sua esposa batalhava por sua liberdade.
Ao sair do campo, o pedagogo incorporou-se ao movimento da Resistência Francesa, que lutava contra a ocupação dos nazistas na França. Esta experiência lhe deu ânimo para sua próxima iniciativa: a criação do ICEM, uma cooperativa de professores, da qual fizeram parte mais de 20 mil pessoas, cidade de Vence, onde viveria até seus últimos dias
Uma das grandes batalhas de Freinet era pela redução de alunos por sala de aula, o que ele via como prejudicial ao ensino das crianças. Depois de lutar por anos por esta causa e lançar uma campanha nacional por ela, em 1956 tornou-se lei que cada classe comportasse no máximo 25 alunos.
Neste momento, a pedagogia do educador francês já atraía vários seguidores. Em 1957 foi criada a Fundação Internacional dos Movimentos da Escola Moderna (Fimem), com atuação de professores de todo o mundo. Suas ideias são fortes também no Brasil, onde funciona a Rede de Educadores e Pesquisadores da Educação Freinet (REPEF) e o Movimento Escola Moderna Norte Nordeste (MEMNNE). Célestin Freinet morreu em 1966 e seu legado para a educação contemporânea é inegável.
A aprendizagem pelo trabalho
Para Freinet, a educação deveria ser mais conectada com a vida real. Sua proposta de ensino teve como base pesquisas a respeito da forma com que a criança pensa e de como constrói seu conhecimento, além da observação de como e quando intervir na aprendizagem do aluno.
Freinet dava muita importância ao trabalho – no sentido de experimentar, pesquisar, documentar. O aprender, acreditava ele, passava pelas vivências, o que só era adquirido por meio de “colocar na mão na massa”, desenvolvendo o pensamento, a inteligência e a percepção.
A aprendizagem por meio da experiência seria mais eficaz, acreditava Fernet, pois se um projeto criado pelo estudante não desse certo, ele poderia repeti-lo até que funcionasse, com a facilitação do professor, que deveria organizar o trabalho de seus alunos, sem repressão ou uso exagerado de autoridade. A relação professor-aluno, portanto, era um dos pontos fundamentais do processo do aprender.
O francês também criou as “Invariantes Pedagógicas”, as quais eram princípios que deveriam ser sempre levados em conta na educação, independente da época ou do lugar. As “Invariantes” são consideradas os grandes pilares do projeto pedagógico de Freinet.
Como desde a escola não concordava com os métodos pedagógicos que o educaram, o pedagogo buscou formas inovadoras que gerassem outro tipo de aprendizagem, tais como revistas, jornais, troca de cartas e documentos. Não era um adepto das cartilhas, que não levavam em conta a realidade individual de cada aluno, não estimulando-a a ler.
Defensor da liberdade, Freinet tinha nela uma possibilidade do homem passar por dificuldades. Por isso, ele criou técnicas pedagógicas que pudessem envolver todas as crianças na aprendizagem, independente de sua origem, condição social ou financeira. À frente de seu tempo, o francês acreditava que a escola e o conteúdo ensinado ali deveria estar relacionado às condições de vida dos estudantes.
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