O Brasil não está entre os países que mais recebem estrangeiros a nível mundial ou tampouco latino-americano. De acordo com números recentes da Polícia Federal, por volta de 750 mil imigrantes vivem em terras brasileiras, o que corresponde a apenas 0,4% da população total (207 milhões de habitantes).
Mesmo diante deste universo, é fundamental que a escola, seja pública ou privada, esteja preparada para acolher o estudante imigrante, seja de qual a origem. Para ter-se no horizonte algumas ideias de como este processo pode acontecer, conversamos com a professora Olívia Nakaema, do curso de Letras do Instituto Singularidades. Confira a seguir alguns pontos ressaltados pela docente e que devem ser levados em conta pelas instituições de ensino.
Qual deve ser a forma ideal de acolhimento dos alunos estrangeiros em sala de aula, independente do nível (ensino fundamental ou médio) e tipo (pública ou privada) de escola?
É muito difícil chegar a uma forma ideal de acolhimento, pois são muitas as especificidades da situação dos alunos estrangeiros nas escolas. Normalmente, são alunos de diferentes línguas maternas e com níveis diferentes de compreensão da língua portuguesa.
Existem diferentes formas de acolhimento interessantes já sendo utilizadas no Brasil e em outros países em que há muitos brasileiros. Uma delas é o oferecimento de aulas especiais de língua portuguesa como língua estrangeira. Nesse caso, são usadas metodologias e materiais elaborados para um falante não-nativo de português.
Outra forma que poderia ser útil é a elaboração de manuais sobre o funcionamento da escola brasileira traduzidos para diferentes idiomas. Isso poderia fazer com que pais e alunos entendam o dia a dia da escola e suas regras, como o uso de uniforme, materiais, eventos anuais etc.
Na cidade de São Paulo foram registrados 4.747 alunos estrangeiros na rede pública de São Paulo no ano de 2017, de acordo com a Secretaria Municipal de Educação. Entre as principais nacionalidades estavam bolivianos, sírios e angolanos. Como o professor deve fazer para que estes alunos não se sintam isolados na escola brasileira? Como engajá-los e eliminar possíveis desníveis de aprendizagem?
Em primeiro lugar, o professor precisaria entender que a língua é uma barreira que impede que todos os alunos (brasileiros e estrangeiros) sejam tratados e exigidos da mesma forma.
Seria preciso adotar, portanto, um tratamento observando a isonomia dos alunos, isto é, tratando os desiguais desigualmente. O professor deve tentar conhecer a cultura do aluno estrangeiro e valorizá-la, ensinando aos demais alunos que a diversidade cultural é positiva e que não há cultura melhor que outra.
Com relação ao ensino, para evitar desníveis, seria importante um acompanhamento diferenciado para os alunos estrangeiros, com exercícios e atividades complementares nos moldes de aulas de reforço. Muitas vezes o aluno estrangeiro compreende o conteúdo das disciplinas dadas, mas se atrapalha com a língua portuguesa. Nesse caso, seria importante que o professor conseguisse explicar a matéria de forma diferente, utilizando metodologias voltadas para o ensino e a aprendizagem de língua estrangeira.
Como são os direcionamentos para tratar de temas como bullying e outros conflitos?
Nestes casos seria importante trabalhar a valorização da diversidade entre os alunos, estabelecendo atividades para conhecer a cultura do aluno estrangeiro. Assim, ao conhecer o outro, o aluno brasileiro passa a respeitar mais as diferenças e compreender a situação dos colegas estrangeiros.
Muitas vezes, esses alunos não estão felizes por terem deixado seus países, como é o caso dos refugiados e imigrantes. Como são trazidos pelos pais, não conseguem entender o porquê de terem vindo ao Brasil. Por isso, para evitar conflitos, seria interessante realizar um acompanhamento psicológico com esses alunos, para que consigam entender a própria situação.
Como o curso de Letras e de Educação Bilíngue do Singularidades treina professores que atuem em escolas com presença de alunos estrangeiros? Existe alguma disciplina que aborde este tema?
No curso de Letras temos hoje uma disciplina voltada para o ensino de português como segunda língua, isto é, como língua estrangeira. A partir da grade curricular nova, teremos duas disciplinas, uma de metodologia do ensino e outra de didática, que prevê horas de estágio em instituições de ensino de língua portuguesa como segunda língua.
Uma vez que ensinar um idioma estrangeiro exige metodologia diferenciada, essas disciplinas específicas para alunos estrangeiros são extremamente relevantes para a formação do professor no contexto atual globalizado, já que cada vez mais alunos estrangeiros estão presentes nas escolas brasileiras e é preciso saber lidar com eles.
Com essa formação, um futuro professor formado pelo Singularidades será capaz de acolher melhor esses alunos estrangeiros e atender suas necessidades.
Olívia Nakaema é professora do curso de Letras do Instituto Singularidades
Para saber mais: www.institutosingularidades.edu.br
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