A escola do futuro apresenta aos novos gestores escolares desafios que vão muito além do que os profissionais tradicionais vinham aprendendo e executando até agora.
Entender as necessidades humanas e tecnológicas da comunidade escolar ganhou uma importância muito maior num mundo hiperconectado e com relações cada vez mais superficiais, onde o Whatsapp tantas vezes substitui a boa e velha conversa olho no olho.
Além disso, estar atento às mudanças no mundo do trabalho, que pede um foco maior em profissões não tradicionais é cada vez mais obrigatório.
Quais os desafios o esperam e como o novo gestor deve estar preparado para lidar diante deste cenário? Conversamos com Miguel Thompson, Diretor Executivo do Instituto Singularidades, e ele nos deu algumas pistas sobre estas e outras questões. Confira na entrevista a seguir.
Na parte pedagógica, quais são os grandes desafios do gestor escolar do futuro?
A sociedade vem sofrendo grandes transformações nas últimas décadas, nas relações cotidianas, na economia e na forma como vê o ambiente. Um dos grandes desafios do gestor é entender e acompanhar essas mudanças, além de propor possibilidades estratégicas para seu projeto educacional.
Há um aspecto muito importante que deve receber particular atenção do gestor: o mundo do trabalho. Com as novas formas de produção, influenciado pela cultura digital, deve-se repensar as relações de tempo, espaço, hierarquias e papeis funcionais do trabalhador.
Seja o que espera os alunos no futuro, como as novas formas de emprego e o desaparecimento de muitas funções produtivas, sejam os professores e todos os trabalhadores envolvidos no projeto de escola liderado pelo gestor. Vale também atentar-se a maneiras de remunerar aulas a distância, às formas de gerir conexões educativas on-line e os modelos de gestão compartilhada da escola.
Criar uma cultura de flexibilidade de troca entre todos os atores escolares (alunos, famílias, funcionários administrativos, professores) para o encaminhamento dos problemas complexos e cada vez mais originais que surgem passa a ser urgente.
Além disso, pensar numa gestão compartilhada, no acompanhamento de tendências e na leitura antecipada de possíveis problemas será fundamental para o administrador escolar conduzir com eficiência seu projeto e o desenvolvimento de toda comunidade educativa.
E na questão administrativa? Quais modelos de gestão você vê como promissores?
Cada vez mais planejar será fundamental. Não como elemento de amarra, mas como um referencial. Em um mundo tão dinâmico, cotidianamente surgem imprevistos e oportunidades que exigem um replanejamento administrativo. Mais do que nunca, uma visão estratégica será fundamental, e também estendê-la ao propósito e à manutenção da cultura institucional.
A flexibilidade das emergências cotidianas não pode alterar essa visão da instituição, sob o risco de perda de foco e eficiência. Assim, planejar para replanejar, para redimensionar orçamentos, processos e alocar pessoas para que atinjam seu máximo potencial será fundamental.
Em um cenário imprevisível, será muito importante estar atento ao cotidiano, ler suas dinâmicas, apoiar decisões de colaboradores sem nunca abrir mão dos propósitos e da cultura institucional. Essa “visão de helicóptero” será fundamental para que a instituição atinja seu nível ótimo em um ambiente de grandes turbulências.
Vivemos dias em que somos muito conectados e dependentes de aparatos eletrônicos. A escola vem buscando adequar-se a isso? Como o gestor escolar deve planejar o investimento neste tipo de recurso?
O foco cada vez mais é a conectividade. Investir em hardwares como computadores cada vez mais se torna temoroso, uma vez que a taxa de obsolescência desses aparelhos é muito alta. Por outro lado, a popularização de aparelhos móveis estimula que passemos para os usuários a responsabilidade de portá-los, em um conceito denominado BYOD (Bring Your On Device ou “Traga o seu próprio dispositivo”), cabendo à escola investir em aparelhos que possibilitem essa conectividade, wi-fi e softwares de segurança.
Evidente que para as crianças que ainda não portam celulares e outros portáteis haverá a necessidade de PCs na escola, mas que exigirão menos atualizações que os destinados aos estudantes mais velhos e professores mais tecnológicos.
Investir em uma Tecnologia Educacional (TE) será muito importante, por meio da contratação de aficionados pelo mundo digital e formação dos mesmos para as necessidades didático-pedagógicas da escola. Ainda nesse campo o ser humano será fundamental.
Na questão de gestão de recursos humanos, a escola, como a sociedade, deve respeitar a diversidade de sexo, cor e orientação sexual de seus funcionários. Como este gestor pode contribuir neste processo?
As questões de identidade cultural (sexo, raça, social) devem ser levadas em consideração na hora de compor o quadro de colaboradores. A diversidade de posições, origens e ideologias é muito importante para que possamos colocar na escola diferentes pontos de vista.
Os problemas contemporâneos não podem mais ser resolvidos com visões hegemônicas do passado. Hoje, há diversos grupos organizados da sociedade que defendem projetos minoritários, afirmações de cultura e e de ideias.
Ao contratar novos colaboradores, é sempre interessante ativar esses grupos para que possam contribuir e indicar pessoas para ocuparem as posições necessitadas. Buscar uma multiplicidade de vozes para que contribuam eficientemente para o atingimento dos objetivos da escola é uma das formas contemporâneas mais importantes e interessante para a nova gestão escolar.
Finalmente, que atributos deve ter um profissional que quer ser um gestor escolar?
Deve ter os conhecimentos técnicos de um administrador, conhecer elementos do mundo da educação, ser antenado com as mudanças sociais, bem informado e ter o propósito de transformação dos indivíduos e da sociedade para um mundo mais justo e melhor como agente norteador de suas ações. Por fim, uma grande paixão pelo que faz é fundamental!
Miguel Thompson é Diretor de Operações do Instituto Singularidades. Licenciado em Biologia pela Universidade Mackenzie, doutor e mestre em Oceanografia pela Universidade de São Paulo (USP), Thompson também tem um MBA em Markting pela Fundação Instituto de Administração, da mesma instuição.
Para saber mais: www.institutosingularidades.edu.br
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