Qual seria a imagem de uma escola se você tivesse que desenhá-la? Um prédio com salas, pátio, jardim, biblioteca e quadra? Esse espaço agente dos processos de ensino e aprendizagem é o responsável por promover a democratização dos conhecimentos produzidos pela humanidade, organizados em disciplinas curriculares que garantam olhares diferentes para o mundo. Assim, temos um olhar “químico”, um “sociológico”, um “linguístico”, um “artístico” etc.
De maneira fragmentada e sistematizada e através de práticas educativas, podemos dizer que é mundo dentro da escola. Mas se o objetivo é entender o mundo, vamos pensar no inverso, como já sugeria o principal pensador brasileiro da educação, Paulo Freire. Por que a escola não vai ao mundo para explicar como ele funciona?
Imagine as crianças visitando a feira vizinha da escola e aprendendo sobre pesos e medidas, sobre economia sustentável, sobre alimentação orgânica, sobre argumentação, sobre jornada de trabalho, sobre setorização do espaço… Tudo isso em uma simples visita à feira!
Os benefícios de uma aula dessas incluiriam engajamento, trabalho colaborativo, aprendizado significativo, interdisciplinaridade e autonomia: todos como resultados de um aprendizado por vivência.
Cidade educadora e territórios de aprendizagem
Os conceitos de cidade educadora e de territórios de aprendizagem não são novos, mas têm ganhado cada vez mais visibilidade em discussões sobre inovação na educação e aprendizagem significativa, formando para o século XXI.
O Projeto Minerva Internacional, por exemplo, propõe uma formação universitária em diversos campi ao redor do mundo: os estudantes passam parte de sua formação em cidades como Buenos Aires, Nova York, Seul, São Francisco e Berlim, entre outras.
Os universitários aprendem sobre o mundo no mundo. É um projeto caro, para uma minoria privilegiada, com certeza. Mas mesmo aqui, no Brasil, encontramos experiências exitosas em diversos espaços, seja com Tião Rocha no CPDC, seja no Projeto Âncora (em Cotia), seja na EMEF Campos Salles (em Heliópolis) ou na Fazenda da Toca (em Itirapina, interior de São Paulo).
Guardadas as particularidades de cada um desses projetos, todos têm em comum a concepção de que se aprende sobre a vida vivendo, se aprende sobre a sociedade estudando-a e interagindo com ela, simultaneamente; se aprende sobre o planeta observando-o e interagindo com ele.
A escola tradicional, fechada em seus muros, é herdeira de uma prática pedagógica que supervaloriza a abstração, desvinculada das experiências e das vivências dos alunos.
Falamos sobre a árvore: sobre sua reprodução, sobre sua importância, sobre como se alimenta e como respira, e fazemos tudo isso dentro da sala de aula, desenhando uma árvore no quadro ou projetando uma no telão da sala, enquanto árvores de verdade circundam o espaço onde nossos alunos se reuniram para aprender.
É a elegia da abstração: eu aciono a imagem de uma árvore para a aprendizagem, enquanto existe uma árvore real a poucos metros de minha aula!
Formação de professores
Em um mundo cada vez mais conectado, no qual a democratização das tecnologias digitais tem permitido o fácil acesso a conteúdos científicos sistematizados, a aprendizagem significativa, no mundo real, apresenta-se como um caminho interessante e necessário para dar conta das demandas da contemporaneidade. No Instituto Singularidades, acreditamos em uma formação de professores que enxergue na cidade seu potencial de aprendizagem.
Nesse sentido, quando saímos da sala de aula, não vemos essa saída como uma “visita cultural”, um “passeio”: entendemos as aulas externas como momentos fundamentais para a apropriação do conhecimento e para que nossos futuros educadoras e educadores percebam que o aprendizado faz mais sentido quando estimulado no mundo real.
Sendo assim, já fomos aprender sobre neologismos (formação de novas palavras) e estrangeirismos em um shopping center; já estudamos o estilo barroco no Museu de Arte Sacra; já aprendemos sobre língua de contato na Feira Boliviana da Praça da Kantuta; já visitamos editoras para entender o processo de produção de material didático; fomos ao Memorial da Resistência para consolidar os estudos sobre romances que tratam da ditadura militar no Brasil etc.
Essas são algumas das ações que compõem a formação dos professores de português pelo curso de Letras do Singularidades. Nos cursos de Pedagogia e Matemática a concepção é a mesma: aprende-se em múltiplos espaços, ocupando a cidade e apresentando seu potencial educador para nossos alunos das licenciaturas.
Antenado com as demandas da contemporaneidade, o Singularidades tem cada vez mais se dedicado a investigar e explorar as possibilidades de aprendizagem na cidade, seja por meios das práticas em seus cursos de graduação, seja por eventos que sistematizem a discussão ou em projetos de formação continuada, como o curso online Extrapolando as Paredes da Sala de Aula, disponível para educadores de todo o Brasil.
Vivemos outros tempos, outros ritmos e outras relações com o conhecimento. A era da abstração pura nos acena da janela, dizendo adeus. O aprendizado significativo, ansioso, urgente, bate à porta e nos convida para caminharmos pelo bairro. Já está na hora da escola aceitar esse convite. Você o aceita?
Quer se aprofundar neste tema?
Inscreva-se no curso online “Extrapolando as paredes da sala de aula”. Nesse curso online (com duração de 20h), é discutida a concepção de cidade educadora, explorando os diversos espaços da cidade e da internet para aprendizagem nas diferentes disciplinas escolares.
Marcelo Ganzela Martins de Castro é coordenador do curso de Licenciatura em Letras do Instituto Singularidades.
Para saber mais: http://institutosingularidades.edu.br/novoportal/
Entre em contato: [email protected]