As relações sociais como ponto focal do desenvolvimento intelectual. Essa é a premissa da corrente pedagógica criada pelo psicólogo russo Lev Vygotsky. Conhecida como socioconstrutivismo ou sociointeracionismo, sua teoria destaca a influência do meio, das escolas e dos educadores no processo de aprendizagem das crianças.
Ainda que seja um dos maiores expoentes da educação, dono de uma obra extensa e complexa, Vygotsky viveu apenas 37 anos. Nascido em Orsha, na antiga Bielo-Rússia (hoje Belarus), em 17 de novembro de 1896, cresceu em uma família judia abastada e culta. Sua educação ficava a cargo de um tutor particular e, aos 17 anos, finalizou o curso secundário.
Na Universidade Estatal de Moscou, em 1917, conquistou seu primeiro diploma ao concluir o curso de Direito. Ao longo da vida acadêmica, se interessou por diferentes assuntos, como sociologia, linguística, filosofia literatura, história da arte e, claro, psicologia.
O ano de 1924 foi marcado por seu casamento com Roza Smekhova, com quem teve duas filhas, e pelo ingresso no Instituto de Psicologia de Moscou. O convite surgiu após sua participação no II Congresso de Psicologia, em Leningrado. À época, publicou o texto intitulado Problemas da Educação de Crianças Cegas, Surdas-mudas e Retardadas, título que hoje não seria considerado adequad0.
No ano seguinte, defendeu sua dissertação de doutorado sobre psicologia da arte, fruto de um estudo sobre Hamlet, de William Shakespeare, feito durante seu mestrado. Por conta de uma crise aguda de tuberculose, que o deixou incapacitado por um ano, Vygotsky acabou recebendo o diploma de maneira simbólica.
Ao se recuperar da doença, voltou sua atenção para teorias relevantes como a Gestalt, a Psicanálise e o Behaviorismo. Estudou também os conceitos criados pelo educador suíço Jean Piaget.
Vygotsky produzia com vigor. Ao todo, escreveu cerca de 200 artigos científicos, tratando desde neuropsicologia, linguagem e educação até questões sobre ciências humanas e críticas literárias.
Ao longo de um ciclo de apenas dez anos publicou seis livros, todos dentro da temática da psicologia. Entre seus principais trabalhos estão Estudos Sobre a História do Comportamento (1930), Lições de Psicologia (1932), Pensamento e Linguagem (1934), Desenvolvimento da Criança Durante a Educação (1935) e A Criança Retardada (1935).
Depois de lutar por anos contra a tuberculose, Vygotsky perdeu a batalha para a doença e faleceu em 11 de junho de 1934. Depois de sua morte, o governo soviético rejeitou as ideias do pensador e baniu suas obras do país até 1958.
A teoria socioconstrutivista de Vygotsky
Lev Vygotsky foi o primeiro teórico a observar a relação entre as interações sociais, as condições de vida e o desenvolvimento intelectual das crianças.
Essa abordagem, que nasceu de suas inquietações sobre ensino e aprendizagem, o levou a constatar que o conhecimento é construído socialmente dentro das relações humanas. Ou seja, para gerar novas experiências e ideias é necessário que, ao menos, duas pessoas se relacionem ativamente.
Seguindo esse raciocínio, uma criança nasce apenas com funções psicológicas básicas. É somente ao longo da vida e por meio de seu contato com o mundo, com as pessoas e a com cultura ao seu redor que ela desenvolve funções psicológicas superiores – que incluem recursos como memorização ativa, raciocínio lógico, pensamento abstrato, habilidades de planejamento e organização.
Essa corrente teórica, conhecida como socioconstrutivismo ou sociointeracionismo, avalia ainda que cada pessoa internaliza os conhecimentos de maneira individual e pessoal, criando significados próprios para aquilo que lhe acontece. Aqui, a linguagem assume papel fundamental, pois é ela quem possibilita a troca, a conexão entre os seres humanos.
Em Vygotsky, podemos destacar três fases distintas no processo de aprendizagem infantil. Na primeira, chamada de zona de desenvolvimento potencial, encontramos os aspectos que a criança ainda não aprendeu a controlar, mas que se espera que ela consiga elaborar.
Já a segunda etapa, a zona de desenvolvimento real, envolve situações e atividades que ela consegue empreender sozinha. Por último, temos a zona de desenvolvimento proximal, que define a distância entre o que a criança é capaz de realizar de maneira independente e aquilo que faz contando com o apoio de outra pessoa, seja ela um adulto ou outra criança.
Tal concepção é muito utilizada no campo pedagógico até hoje, visto que o professor e o ambiente escolar são grandes influenciadores do aprendizado e desenvolvimento infantil. Na prática, isso ajuda o docente a guiar a criança da fase de desenvolvimento real para aquela em que os conhecimentos, embora presentes, ainda não despontaram.
Para isso, é essencial que o espaço escolar crie condições e cenários interessantes ao aprendizado, incentivando especialmente a interação entre os alunos. A razão é que, em geral, uma criança alcançará resultados melhores ao resolver uma tarefa complexa com o auxílio de um colega mais velho do que com a ajuda de um adulto.
Como consequência, a criança mais experiente pode aprimorar seus conhecimentos enquanto o mais novo encontra em seu par uma motivação para vencer seus próprios limites.
Vygotsky inovou ainda na forma de avaliar os estudantes, tendo pensado em um método dinâmico de avaliação. Enquanto a prática pedagógica costuma utilizar testes fixos, baseados em respostas certas, a sugestão do psicólogo russo é que o foco caia justamente sobre as respostas incorretas.
Desse modo, o professor consegue compreender a linha de raciocínio de cada aluno e oferecer recomendações específicas para que ele possa resolver o problema.
Um dos grandes benefícios trazidos à tona pelos estudos de Lev Vygotsky é que a escola pode se relacionar com o movimento de ensinar e aprender de uma maneira diferente, considerando esse como um processo vivo e em constante evolução.
O conhecimento não nasce pronto, mas é conquistado, construído, especialmente através das interações entre as pessoas e o meio que se habita.
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