Rubem Alves foi um dos nomes mais importantes e multifacetados da intelectualidade contemporânea. Além de educador, foi teólogo, escritor, filósofo, psicanalista e pastor presbiteriano. Era um crítico da escola tradicional e defendia uma educação que levasse o estudante a pensar.
Nascido em Boa Esperança (MG) em 1933, Alves era filho de uma família abastada, mas que foi à falência com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, sendo obrigada a mudar-se da cidade para uma casa simples no campo. Aos poucos o padrão de vida foi melhorando e foram viver em Lambari, Três Corações e Varginha (as três em Minas Gerais) e, finalmente, no Rio de Janeiro.
Em 1945, na então capital do país, o futuro educador estudou no Colégio Andrews, um dos mais renomados da cidade, onde conviveu com alunos mais ricos e sofreu preconceito por seu sotaque marcado do interior. O bullying – palavra que naquela época sequer era usada – o levou a buscar refúgio nas aulas de piano e na igreja presbiteriana.
Em 1953, Alves foi viver em Campinas (SP) para cursar o bacharelado em teologia no Seminário Teológico Presbiteriano, que terminou quatro anos depois. Durante o mesmo período, obteve a habilitação para lecionar piano e serviu no Centro de Preparo de Oficiais da Reserva (CPOR), conhecido centro de formação militar do estado de São Paulo.
Ao terminar o seminário, ele conheceu Lidia Nopper, com quem se casou em 1959 e teve três filhos, Sergio, Marcos e Raquel. À época de seu casamento, Alves atuava como pastor em comunidades carentes de Lavras (MG), mas percebeu que sua linha de pensamento teológico era recebida com certo receio, por ser considerada não convencional. Ele não acreditava, por exemplo, que a igreja deveria valorizar o sofrimento e não o prazer de viver. Foi nesta fase que ele iniciou sua vida docente, lecionando filosofia.
Em 1963, Alves deixa a família no Brasil para fazer um mestrado em Teologia Sacra no The Union Theological Seminary, em Nova York. De volta à pátria no ano seguinte, ele abandonou suas atividades como pastor e foi viver em Lavras, no sul de Minas Gerais, devido ao Golpe Militar de 1964. Como seu estilo de pregação era considerado subversivo, contrário ao tradicional e “perigoso”, seu nome foi listado como inimigo do regime.
Em 1965, Alves, Lidia e os filhos passaram outra temporada nos Estados Unidos, onde ele se doutorou em filosofia, em Princeton. Na volta, a família se estabeleceu em Campinas, onde ele iniciou sua carreira acadêmica lecionando filosofia na Faculdade de Rio Claro, cidade a poucos quilômetros dali. Passou mais um ano em terras norte-americanas como professor convidado no The Union Teological Seminary, em Nova York.
Em 1974, tornou-se professor do Instituto de Filosofia da Universidade Estadual de Campinas (IEL-Unicamp), onde seis mais tarde ele conquistou a livre docência em Filosofia Política e, nos anos 2000, foi agraciado com o título de professor emérito.
A entrada no mundo da literatura acontece na mesma época, e a chegada de Raquel, sua terceira filha (que nasceu com lábio leporino e fissura palatal) mudou sua vida. Seus textos passaram a ser mais livres dos cânones acadêmicos e ele se tornou também autor de livros infantis, inspirado no amor e na luta pela saúde da filha. Os anos seguintes foram os mais produtivos de sua carreira como escritor.
No final da década de 80, Alves iniciou uma formação em psicanálise em São Paulo e passou a acumular as carreiras de escritor e professor com a de psicanalista. Também passou a ser convidado a dar palestras por todo Brasil na área de educação, onde defendia uma escola mais livre e alunos mais protagonistas.
Tornou-se um dos grandes nomes da educação brasileira nos anos 2000, quando sua produção literária (crônicas sobre o cotidiano e a educação, sobretudo) também tornou-se mais intensa. Em 2009, seu livro Ostra feliz não produz pérola conquistou o 2º lugar do Prêmio Jabuti (a maior premiação da literatura brasileira) na categoria “Contos e Crônicas”.
Depois de lutar contra um câncer no estômago em 2006 e passar por uma cirurgia no coração em 2009, Rubem Alves foi diagnosticado com Mal de Parkinson em 2011, o que o obrigou, aos poucos, a parar suas atividades como cronista e palestrante. Ele faleceu aos 80 anos, em 2014, em Campinas, cidade onde construiu sua carreira e sua família.
Um professor que ensine a pensar
Adotando por toda a vida uma postura contrária ao sistema educativo do Brasil, Alves era defensor de uma forma de educação mais inspiracional e livre, e suas ideias sobre o educar, o pensar e como dispor o tempo da criança e do adulto inspiraram gerações de outros educadores.
Rubem dizia sua ideia de professor era de um profissional que não ensinasse conteúdos, mas que ativasse a curiosidade do estudante. “O objetivo da educação não é ensinar coisas, porque as coisas já estão na internet, estão nos livros e estão por todos os lugares. O professor deve ensinar a pensar, criar na criança essa curiosidade”, defendia ele, no documentário Rubem Alves, o professor de espantos, dirigido por Dulce Queiroz.
Para Rubem, ser alegre era um elemento indispensável na vida, e na educação não deveria ser diferente: uma sala de aula ativa, que criasse no aluno “a alegria de pensar”. “A gente precisa ter uma educação ligada com a vida. Porque é para isso que a gente aprende, para poder viver melhor, para ter mais prazer, para ter mais tempo, para não se arriscar”.
Ele também acreditava que a única forma de incentivar a leitura nos pequenos era lendo-se para eles, o que criaria um laço sentimental entre os livros e a criança.
Para Rubem, se os alunos liam porque o professor mandasse, o interesse deles não seria o mesmo se o educador criasse um momento especial dedicado a ler para seus estudantes da educação infantil – como quando os pais leem para os filhos antes de dormir –, criando uma conexão que se fortaleceria com o tempo.
Essa forma de dar à educação um olhar alegre e afetivo fez de Rubem Alves um dos mais admirados professores de educação de nossos tempos, tendo formado várias gerações de profissionais inquietos e questionadores, que seguiram seu legado de lutar por uma escola mais humana.
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