Setembro é um mês marcante para a comunidade surda brasileira. O mês – batizado Setembro Azul – reforça a visibilidade da comunidade surda e de pessoas com outros tipos de deficiência. Hoje, dia 26, é comemorado o Dia Nacional dos Surdos, data que além de evocar a importância da empatia e da proximidade, homenageia o professor surdo francês Eduard Huet, fundador da primeira escola para estes alunos aqui no país.
O azul da data relembra um acontecimento: durante a Segunda Guerra Mundial, os soldados nazistas marcavam, por meio de fitas azuis amarradas nos braços, as pessoas com diversos tipos de deficiências e estavam distantes ao ideal de “raça pura” imaginada por Adolph Hitler. Felizmente, esse fato lamentável acabou sendo transformado em símbolo de luta e resistência pelos surdos.
Conversamos com Tiago Codogno Bezerra, professor dos cursos de graduação e da pós-graduação em Tradução e Interpretação de Libras – Português sobre a importância da data e os desafios dos educadores (como é o caso dele) e alunos surdos no nosso país. Confira na entrevista a seguir.
Por muito tempo a educação de surdos foi deixada de lado no mundo e no Brasil. Em nosso país, o Instituto Imperial de Surdos-Mudos – hoje chamado de Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) – foi criado em 1857 e, desde então, este quadro vem mudando cada vez mais. Quais os maiores desafios que o ensino de surdos enfrenta hoje?
Antigamente, só haviam os professores ouvintes e não os surdos, que dominavam a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Agora estão surgindo mais educadores surdos, valorizando a formação de professores bilíngues em Libras e Português na educação de estudantes surdos.
Outro desafio é que carecemos de estrutura e acessibilidade para receber os surdos, principalmente na educação inclusiva. Também faltam materiais didáticos adequados para estes estudantes e muitas outras coisas para melhorar que, com o tempo, as novas buscas e as descobertas podem ampliar a qualidade da educação desses alunos.
O Ministério da Educação (MEC) recomenda que estudantes surdos sejam matriculados em escolas regulares junto a alunos não-surdos, por considerar que a inclusão e a diversidade seriam fundamentais para o desenvolvimento daquela criança ou jovem. Entretanto, nem sempre a realidade é tão boa, e existem muitas escolas na rede pública e particular que não estão preparadas (ou rejeitam) para receber alunos Surdos. O que os pais destes alunos devem levar em conta na hora de escolher a melhor instituição para educá-los?
Os pais dos alunos surdos devem informar-se e consultar o projeto pedagógico adequado para os seus filhos: se a escola oferece acessibilidade para a informação de conteúdos trabalhados e estrutura para trabalhar com alunos surdos ou intérprete de Libras na sala de aula, por exemplo.
Outros pontos fundamentais são o sinalizador de campainha (que emite luz e não som e possibilita ao aluno se comunicar com os demais, colegas ou professores), materiais didáticos adaptados, filmes legendados e janela de intérprete de Libras, além de professores formados nesta língua e adequados para trabalhá-la em classe. Os pais também devem participar de formações em Libras para se inserirem na vida dos filhos e na da comunidade surda podendo, desta forma, entender melhor o caminho melhor para a identidade deles.
Desde que foi criada em 2001, a Libras (Língua Brasileira de Sinais) vem promovendo a inclusão da comunidade surda não apenas no mundo da educação como também no do entretenimento, cultura e, de forma geral, na cidadania. Este mesmo movimento criou uma necessidade de profissionais com formação específica, como intérpretes e professores. Como professor e cidadão, de que forma você avalia esse avanço e quanto o país ainda precisa melhorar neste aspecto?
Comparando-se com os últimos anos, mudou para muito melhor. Agora, vários lugares oferecem acessibilidade, inclusive pessoas capacitadas para atender aos surdos por meio da Libras, e oferecendo sempre aos funcionários dos serviços públicos e empresas particulares a formação nesta língua, respeitando-se o decreto 5.626/2005. Diminuindo as barreiras da comunicação, com redes sociais e mídias, a acessibilidade melhorou, mas ainda falta muito para chegar aos 100%.
O Setembro Azul é um marco para chamar a atenção para a luta pelos direitos – a uma melhor educação, inclusive – da comunidade surda. Qual o impacto que esta data vem causando na prática, em sua opinião?
Nesse momento, a comunidade surda só deseja que todos tenham mais conhecimento sobre a língua usada por ela, além de mais visibilidade das suas conquistas, lutas e vidas, que são semelhantes a de qualquer outro grupo de cidadãos.
Buscamos mais consciência sobre a vida dos surdos, fazendo com que os ouvintes compreendam que eles podem fazer todas as coisas como os outros, entendendo a diferença entre a língua deste grupo (Libras) e dos ouvintes (Português), além de mais respeito e empatia.
Tiago Codogno Bezerra é pós-graduado em “Educação: Docência no ensino superior” pela Universidade Guarulhos-UnG, graduado em Letras LIBRAS pela Universidade Federal de Santa Catarina (2010) e em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2006). É docente do Instituto Singularidades, do Colégio Luiza de Marillac e do Instituto Educacional de São Paulo (IESP-DERDIC/PUC-SP).
Para saber mais: http://institutosingularidades.edu.br/novoportal/produto/traducao-e-interpretacao-de-libras-portugues/
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