Hoje começamos uma nova série de posts sobre literatura infantil que os professores poderão utilizar com seus alunos para estimular o interesse pela leitura. A curadoria é da professora Cris Mori, que há algumas semanas nos ofereceu em três textos as principais diretrizes sobre como formar um acervo para os alunos da Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, que contemplasse os principais gêneros literários e que possibilitasse o engajamento na aventura de navegar por letras antes nunca antes descobertas.
A cada duas semanas traremos uma resenha elaborada pela professora e a primeira da série é do livro Meu pai é um homem-pássaro, de David Almond*. Vale destacar que a intenção dessas resenhas é a de oferecer um panorama detalhado de cada obra, a fim de contribuir para a seleção de títulos pelos professores e demais mediadores de leitura. Por isso, não raro, e diferentemente das resenhas que circulam em jornais e revistas, o final é revelado.
Acompanhe a seguir a bela história de amor e superação da perda de um pai e sua filha pequena.
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Lizzie, uma menina de (aparentemente) 9 anos, perdeu a mãe recentemente. Seu pai, Jack, numa tentativa de fugir da realidade e da dor da perda, acredita ser um pássaro: come insetos, fabrica um par de asas e deseja voar.
A garota cuida dele como de um filho, preocupando-se com sua aparência e sua alimentação. Num dia em que finge que vai à escola e volta para casa, flagra o pai com o par de asas que ele construiu e, numa demonstração de amor incondicional, começa a participar de sua fantasia.
Ela aprende a apreciar o colorido e a maciez das penas dos pássaros, ajuda o pai a construir ninhos aconchegantes e a montar asas enormes para ele e para ela. Ela também se inscreve, como ele já fizera, em um concurso de pássaros humanos.
Entretanto, tia Doreen está muito preocupada, pois acredita que ele seja um louco e esteja fazendo muito mal à menina. Ela tenta, com a ajuda do diretor da escola de Lizzie – Sr. Mint – levá-la embora daquela casa, mas ela, sempre atenta, delicada e amorosa, afirma que eles estão bem e que ficará ao lado de seu pai.
Passam então a viver juntos a fantasia de que são pássaros e a se preparam para o grande dia do concurso. O amor entre eles e o entusiasmo de ambos vai acabar contagiando até tia Doreen e o Sr. Mint, que também participam do concurso. No dia da competição, todos os participantes acabam mesmo caindo no rio, numa grande diversão.
No final, Lizzie, seu pai, tia Doreen e Sr. Mint comemoram e festejam, dançando. David Almond é um premiado autor inglês e, neste livro, usando os pássaros e o voo como metáforas, consegue mostrar como o amor pode transcender a tristeza e a morte.
É um livro delicado, profundo, cujas camadas de leitura demandam um leitor disposto a se entregar à leitura. Ele terá de ver entre as linhas e por trás das linhas para perceber como Lizzie funciona, assim como o adulto desse par pai-filha.
O leitor também deverá estar atento e sensível para entender que o amor dela pelo pai sublima suas “loucuras”, como os bolinhos de Tia Doreen são sua forma de amar e cuidar, e como o Sr. Mint, diretor da escola, tem sensibilidade para entender que a inteligente Lizzie, naquele momento, precisa muito mais de cuidar do pai do que da escola.
*ALMOND, David. Meu pai é um homem-pássaro. Ilust. Polly Dunbar. Trad. Mariluce Pessoa. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010.
Cristiane Mori é mestre em Linguística pelo IEL/UNICAMP e fonoaudióloga pela PUC-SP. É professora da licenciatura em Pedagogia do Instituto Singularidades.
Para saber mais: http://institutosingularidades.edu.br/novoportal/
Entre em contato: [email protected]