Por que a experiência é tão importante e significativa na educação infantil? Como os professores podem ser agentes e mediadores dela? As professoras Josca Ailine Baroukh e Silvana Augusto, coordenadoras das pós-graduações Educacão Infantil: investigações e fazeres com crianças de 0 a 3, e de 4 a 6 anos do Instituto Singularidades falaram sobre como este é um dos conceitos mais importantes do ensinar uma criança. A palestra aconteceu durante o evento Portas Abertas, com participação de professores, alunos do Instituto e de outras faculdades.
A palestra foi dividida em duas partes. Neste texto trataremos da primeira. As professoras falaram sobre como a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) acolhe as especificidades da educação infantil. Silvana cita o pedagogo e psicólogo espanhol Jorge Larossa, que diz que “a cada dia se passam muitas coisas, porém quase nada nos acontece. Passaram-se tantas coisas, mas a experiência é cada vez mais forte.”
Desta forma, o pedagogo reforça que um dos conceitos mais pungentes do mundo contemporâneo, a experiência, está no centro do debate no mundo. “Larossa chama a atenção para esse conceito principalmente no que tange à educação infantil, constituindo-se como conceito fundamental da atual base”, explica Silvana.
A professora ressalta que muitos professores atuais ou futuros estejam se perguntando sobre o porquê a BNCC vem falar da educação infantil neste momento (a nova base foi elaborada primeiro para o ensino fundamental 1 e 2, e está em curso a preparação para o médio).
Silvana acredita que a BNCC, ao incorporar a experiência – coisa que não é nova, pois já foi testada no passado – pensa-se em trazer para a sala de aula um momento não só vivido pela educação brasileira, mas em todo o mundo.
“Estamos vivendo uma crise da experiência no mundo contemporâneo. Não é apenas na educação ou na educação infantil, é uma questão humana. Como a gente tem vivido um tempo muito difícil, ter uma experiência de fato significa alguma coisa: a gente tem um excesso de informação, de trabalho e de envolvimento com tantas coisas, que no fim do dia a gente nem sempre tem essa consciência do que impactou o dia, do que eu viveu e nem que naquele dia que acabou eu fiz tantas coisas, e delas, o que alterou o meu estado ou a minha presença nesse mundo”, reflete.
A professora salienta que aos educadores cabe cuidar dos processos de humanização dos saberes comuns e da construção de uma outra possibilidade de intervenção do mundo, e é por isso que a educação volta a pensar nessa questão da experiência, que atualmente é um dos conceitos mais presentes e importantes na BNCC.
A base que está em curso se pauta em um documento anterior, as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil, de 2009, e as discussões a respeito delas seguem, mesmo com o advento da BNCC, em 2017. “A nova base propõe que o currículo da educação infantil deva ser concebido como um conjunto de práticas, que buscam articular as experiências e os saberes das crianças, com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade, que é a idade da Educação Infantil”, explica a professora Josca.
Essas práticas indicadas pela nova base, no entanto, devem levar em conta que a criança é um “sujeito histórico de direito”. “Que vivencia, constrói sua identidade, brinca, imagina etc. É um sujeito de potência. Ela não é aquela tábula rasa, que chega na escola sem referências, aquele saquinho que a gente vai encher, um papel em branco. Ela tem o que oferecer, ela é capaz. A escola só existe porque existem as crianças, apesar de parecer, muitas vezes, que ela se organiza em torno dos professores”, avalia Josca.
Esse protagonismo do aluno da educação infantil estimulado pela base esbarra em uma pequena mudança. As crianças devem viver suas diversas experiências, participar delas por meio dos materiais que os professores mediam e organizam, problematizando saberes e usando conhecimentos já sistematizados. Muitos professores sentem-se um pouco perdidos quanto a esse novo papel, e questões podem surgir, como aponta Josca:
“Ele se ausenta, porque se a gente não atrapalhar a criança vai aprender? Qual é o papel do professor? Eu acho que é uma das grandes questões que a base nos coloca. O professor ajuda, articula, traz materiais e contextos, As crianças fazem e ele traz e organiza um conjunto de práticas, Que problematiza, chega e articula com o que já foi construído pela humanidade. Então, a BNCC tira um pouquinho a gente do lugar ao qual estávamos acostumados, mas um educador vem reconstruindo o seu lugar na educação brasileira. Não é uma coisa fácil, é cheio de questionamentos internos, porque ele também é um sujeito, mas a gente tem que achar o caminho do meio”, avalia.
Josca Ailine Baroukh é mestranda da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), graduada em Psicologia pela mesma universidade, com especialização para professores de Educação Infantil e Ensino Fundamental. É coordenadora da pós-graduação em “Educação Infantil: Investigações e Fazeres com Crianças de 0 a 3 anos”, no Instituto Singulares.
Silvana Augusto é doutora em Linguagem e Educação pela Faculdade de Educação e mestre em Educação na área de Didática e Teorias do Ensino e Formação de Professores, além de bacharel emFilosofia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), tudo na USP. É coordenadora da pós-graduação “Educação Infantil: Investidações e Fazeres com Crianças de 4 a 6 anos), do Instituto Singularidades.
Para saber mais: http://institutosingularidades.edu.br/novoportal/produto/educacao-infantil-investigacoes-e-fazeres-com-criancas-de-0-a-3-anos/#1490816260244-e2084ba6-2bb1
http://institutosingularidades.edu.br/novoportal/produto/educacao-infantil-investigacoes-e-fazeres-com-criancas-de-4-6-anos/
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