Entre os muitos recursos que a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) aponta, um dos que prometem ser mais utilizados é o vídeo. A afirmação é do professor Marciel Consani, que ministra o curso on-line Narrativas em Vídeo na Educação, da série Narrativas Digitais das E.D.A Singularidades. O professor conta que acompanhou todos os cursos da série, tentando encontrar uma conexão dos conteúdos com a base e que teve uma boa surpresa.
“Na base, que é o documento mais legítimo do qual hoje dispomos – mais de 600 páginas, extremamente detalhado –, sobram indicações a respeito do uso de vídeo na educação infantil até o ensino médio, passando pelo ensino fundamental, e em um grande número de disciplinas”, conta o professor.
Marciel explica que a maior parte das indicações do documento recaem sobre os componentes curriculares relacionados à linguagem e à língua portuguesa. Entretanto, na educação infantil, o uso do vídeo pode ser multidisciplinar e há ainda um componente de habilidade, chamado “planejamento coletivo de roteiros”. “Nele, o professor atua como articulador do grupo de crianças, no qual elas vão imaginar históricas como se fossem roteiros que, eventualmente, poderão ser usados numa apresentação cênica ou numa gravação”, comenta.
Ainda que tenha seu lugar na educação infantil, a maior parte dos conteúdos, das habilidades desenvolvidas por meio do audiovisual acontecem mais nas séries do ensino fundamental e do médio, principalmente em língua portuguesa. Isso porque, no entendimento da base, o vídeo é entendido como texto e como uma ideia que pode ser transformada numa comunicação audiovisual.
“Num segundo momento vem a possibilidade de trabalhar com formatos definidos pela publicidade, pelo jornalismo, até da expressão artística, e essas linguagens vão impactar não só a sintaxe, a parte técnica do texto, mas também vão tratar do sujeito que fala, como ele fala, qual o seu olhar mais ou menos crítico quanto ao que é ensinado”, reforça o professor.
Uma ideia na cabeça e uma câmera na mão, em várias disciplinas
O professor comenta que a base é mais detalhada quanto ao uso do vídeo, principalmente na disciplina língua portuguesa, nas habilidades que se referem ao que é chamado em comunicação de “leitura crítica das mídias”. Nas séries finais do fundamental, a BNCC já começa a propor a produção de vídeo na escola. “A base fala de produção de vídeo, de áudio, de games, de mídias gráficas, mas a questão do vídeo é muito presente”.
Ainda que haja mais de 30 habilidades relacionadas ao vídeo no ensino fundamental, principalmente nas últimas séries, algumas são pouco citadas, como os games, conforme nos relata o professor. “Então, não sei se foi caso pensado, se foi inteligência coletiva ou tradição, mas a gente confirmou pela construção pedagógica da BNCC que o vídeo é uma presença constante e necessária na escola”.
Além da língua portuguesa, há indicações na base para o uso do vídeo em aulas de artes, história e educação física. Diferentemente da língua portuguesa, a arte permitiria um grau maior de experimentação que a primeira, o que é muito interessante para alunos e professores.
Outros componentes curriculares que poderiam se beneficiar do uso do audiovisual seriam a história e a educação física, segundo a BNCC.
“Na língua portuguesa, nós vamos trabalhar com conteúdos obrigatórios. No caso da história, a ideia é trabalhar o vídeo como registro, na questão também do aluno identificar e coletar registros de sua própria história familiar ou de sua comunidade. Há também uma parte relacionada a corpo, a padrões corporais e de movimento, de jogos e brincadeiras, que faz parte do conteúdo de educação física”, relaciona o professor
Marciel considera importante ter-se em conta a versatilidade que o audiovisual proporciona e que vai além do que é indicado pela base, como os conteúdos tratados no curso on-line ministrado por ele. O professor salienta que o potencial das imagens pode ser levado para praticamente todas as disciplinas, além de projetos interdisciplinares.
“Então, quem trabalha com interdisciplinaridade e pedagogia de projetos vai ter vários conteúdos aproveitáveis dentro dos nossos temas selecionados”.
No ensino médio, a BNCC aponta maior uso do vídeo no componente curricular da língua portuguesa. A partir do segundo ano, além de produzir roteiros, encenações e filmagens, são indicadas atividades que envolvam edição. Estão relacionados entre os conteúdos não só que os estudantes captem, bem como também editem o material usando softwares para esta finalidade.
Marciel diz que que a BNCC respalda o uso dessa ferramenta de uso infinito e democrático, facilitando a construção de projetos, justificativas, contextualização de práticas dentro de uma ou um conjunto de disciplinas. O professor também acredita que o vídeo permite uma maior conexão com os alunos, pois grande parte dos estudantes de hoje compreende e consome produtos audiovisuais em grande quantidade.
“O desafio do professor é alinhar a tradição com as demandas do mundo contemporâneo, que mudou muito rapidamente. A ideia é fazer do audiovisual um conjunto de intersecção de valores, de culturas e de interesses pedagógicos entre os alunos e os professores”, conclui.
Marciel Consani é doutor em Ciência da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, com Mestrado e graduação em Artes/Música pela Universidade Estadual de São Paulo (UNESP). É também professor do Instituto Singularidades
Para saber mais: https://loja.isesp.edu.br/cursos/todososcursos/narrativas-em-video-na-educacao/
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