O Educaramba, o podcast do Singularidades, foi criado como um espaço de diálogo e acolhimento, feito por professores e para professores, para compartilhar desafios, angústias, conquistas e experiências. Depois de um hiato, este canal de mídia voltou em sua segunda temporada em fevereiro, pouco antes da pandemia da Covid-19 atingir o Brasil.
E agora, durante a quarentena, tem sido uma ferramenta essencial para conectar professores e alunos de todo o país, dividindo práticas, dores, ideias e iniciativas criativas para lidar com a quarentena, num grande exercício de empatia e solidariedade, uma vez que as escolas estão fechadas por tempo indeterminado, exigindo esforço extra dos professores para que continuem dando seus conteúdos e, da parte dos alunos, o mesmo para seguirem estudando.
O comando e a apresentação do podcast é de Marcelo Ganzela, professor e coordenador do curso de Letras do Singularidades. Marcelo conta que assumir a segunda temporada do Educaramba tem sido um desafio. “É minha primeira experiência apresentando um podcast. O que tem sido mais bacana é o olhar e o cuidado que a equipe toda tem tido com o programa: não o encaramos apenas como mais um meio de comunicação, mas sim como mais uma ferramenta formativa e de diálogo com os educadores. E de repente, nos vimos envoltos nessa situação emergencial de isolamento e sentimos a necessidade de falarmos disso. Para mim, como professor, apresentá-lo é um aprendizado constante, um frio na barriga e um imenso prazer – tudo ao mesmo tempo!”, conta.
Os dois últimos episódios do Educaramba trouxeram dois lados deste momento tão sui generis que estamos vivendo. No primeiro, Professores e o desafio na educação na quarentena, foram ouvidos docentes das redes pública e privada de várias partes do Brasil.
Guiados por perguntas que a maior parte dos professores têm feito a si mesmos durante a pandemia, como de que forma o professor poderá apoiar os alunos a distância, professores que atuam nos estados de São Paulo, Pernambuco e Maranhão (alguns participantes do programa Ensina Brasil) contaram como vêm conduzindo seu trabalho.
Entre os professores da rede privada, as dificuldades foram maiores no que se refere à montagem de vídeo-aulas, recurso que não era usado até agora, e a utilização de ferramentas complementares on-line, como o Google for Education, que acabaram por tornar-se a plataforma usada por várias escolas em suas aulas diárias.
“Os professores do Ensino Fundamental II e do Ensino Médio já estavam usando o Google for Education como ferramenta complementar de suas aulas e já tinham participado de treinamentos durante o mês de janeiro. Então, foi mais uma questão de adaptação no sentido de gravar as videoaulas, isso sim uma coisa que não era feita e nós passamos a fazer”, conta Patrícia Minari, professora da rede privada de São Paulo.
Dayse Ramos, que também leciona na rede privada e do curso de Letras do Instituto Singularidades, conta que no colégio onde leciona as aulas estão sendo realizadas por videoconferência. “Os alunos precisam ouvir e ver o professor. Eu preciso dar instruções por vídeo, mas elas complementam uma explicação”, conta a professora. Tanto ela quanto Patrícia contam que, por meio das plataformas on-line, os laços e o contato com os alunos têm se mantido, ainda que não da forma ideal, que é o presencial.
Já do lado dos professores da rede pública, a questão do acesso à internet têm sido um obstáculo para que os conteúdos cheguem aos alunos. Fernando Bianco, professor da rede municipal de São Paulo e também do Singularidades, conta que na periferia poucos alunos têm acesso à banda larga, ou mesmo dados suficientes no celular para poder acessar tarefas e aulas.
“O que precisa haver neste momento é uma preocupação em como garantir o acesso de todos a uma banda larga de qualidade. Esse é um grande desafio e a epidemia trouxe a emergência desta questão”, ressalta.
Diante deste desafio que a desigualdade social e a falta de recursos como computadores, internet estável e mesmo um lugar adequado para estudar trouxe à tona, os professores da rede pública que participaram deste episódio contaram como a criatividade têm sido um recurso obrigatório a todos eles.
Daniela Carmona, da rede estadual de São Paulo, relata que infelizmente não há como alcançar todos os alunos, porque muitos sequer têm um computador em casa. “A solução foi colocar algumas atividades no Facebook da escola, para que mais estudantes tivessem acesso [por meio do celular] ”.
Fernanda Vilela, professora da rede estadual do Maranhão, conta que muitas atividades têm sido mandadas aos alunos por meio do Whatsapp. Como alguns pacotes de dados oferecidos pelas companhias telefônicas incluem redes sociais grátis, muitos dos educadores têm as usado como plataforma de compartilhamento de conteúdos das aulas.
O lado dos alunos e a falta do contato com o universo escolar
O episódio seguinte focado nos alunos (Alunos e as percepções das aulas on-line), complementou – e confirmou – muitas das questões levantadas dos professores, principalmente a falta que sentem do contato no dia a dia com a escola, além das dificuldades e problemas em seguir seus estudos.
Entre os alunos das escolas particulares, nota-se que as instituições já haviam estruturado uma maneira de seguir com as aulas desde o começo da quarentena por meio da internet. Para os entrevistados pelo Educaramba, as aulas on-line têm sido diárias, em horários variados, com uma carga maior de tarefas.
Carolina Ribeiro, aluna do Ensino fundamental II, conta que, mesmo com a distância, o contato com os educadores tem sido grande durante aulas on-line. “A relação com os professores continua a mesma. Eles estão sempre disponíveis nas plataformas digitais para tirar dúvidas, o mais rápido possível”, comenta.
Já nas redes municipais e estaduais a realidade é diametralmente diferente. No Estado de São Paulo, desde março, as aulas têm sido dadas por meio de um aplicativo criado para as escolas, e por videoaulas exibidas na TV Cultura. Foi dito pelo governo que apostilas e materiais paradidáticos também seriam distribuídos, mas muitos alunos não receberam estes materiais, comprometendo sua aprendizagem.
Rafael Nascimento de Jesus, do Fundamental I da rede municipal, tem achado complicado estudar em casa e sente falta da rotina, bem como outros entrevistados. As irmãs Camila e Rebeca Leite, do Fundamental II municipal, não receberam o material da escola e, por isso, não estão conseguindo estudar, o que lhes frustrou muito.
Artur Leoni, do Fundamental II da rede municipal, e Gustavo Ribeiro, do Ensino Médio estadual, têm queixas quanto ao aplicativo do governo, que possui uma área de chat, mas como são muitos alunos, os professores não conseguem atender a todos. Gustavo também reclama da rapidez das explicações dos docentes, o que dificulta a apreensão do conteúdo.
Em comum, alunos de todas as redes sentem falta da escola, do contato com os professores e amigos e das aprendizagens que saem destas trocas. Ainda que escolas e professores por si mesmos estejam encontrando maneiras de não deixar seus alunos fora das aulas, nada substitui a aula presencial e a rotina no ambiente escolar.
Ao levantar estas questões, apresentar diferentes visões de mundo e realidades distintas, o Educaramba oferece um incentivo para que os professores sigam adiante, como avalia Marcelo Ganzela. “Ouvir relatos das batalhas diárias, tanto de alunos quanto de professores tem me motivado muito em seguir em frente. Vivemos um período em que é tão fácil jogar a toalha, sabe? Sentir-se perdido, sem expectativa. E, quando ouço os relatos de todos os esforços que essas pessoas têm feito, isso me energiza, me estimula a seguir em frente. Ao mesmo tempo, é tão necessário ouvir as angústias que esses professores e alunos estão sentindo. Isso nos torna mais humanos, nos permite exercitar nossa empatia e nos faz aceitar nossas fragilidades, nossa humanidade”, conclui o professor e apresentador.
Já conhece o Educaramba? Tem acompanhado os últimos episódios? Conta para a gente nas nossas redes sociais ou aqui no blog o que você vem achando dos novos episódios e de como as práticas compartilhadas pelos professores, além do retorno dos alunos, têm lhe inspirado na quarentena!
Para ouvir o Educaramba: https://open.spotify.com/show/4GHo3WQ3o7w254MLwfebz2 (Spotify)
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