Como era o Singularidades nos seus primeiros anos? Uma equipe pequena, em busca de colocar em prática um projeto de formação de educadores inovador, que levasse em conta o processo de aprendizagem de cada membro das turmas de estudantes, lembra Franciele Busico, professora do curso de Pedagogia desde o planejamento das primeiras aulas, em 2001. Ao longo destes 20 anos, o Sing cresceu, ganhou novas turmas, novos cursos e professores. Mas manteve-se fiel ao que moveu aquele grupo de educadores numa casa geminada na Avenida Faria Lima, lutando por uma educação que preparasse os futuros docentes para os desafios da sociedade em que vivemos.
Na entrevista a seguir, além de Franciele, conversamos com Elisabeth Sanada e Denise Rampazzo, que também atuam na graduação em Pedagogia e passaram por várias fases destas duas décadas de história. Elas compartilharam suas memórias e suas conquistas ao longo destes anos junto ao Singularidades.
1 – Há quanto tempo você está no Singularidades?
Elisabeth Sanada: era 2008 quando conheci o Instituto Singularidades, para palestrar como convidada nas aulas da professora Nanci Mitsumori e atuar como parecerista em bancas de TCC. Mas foi em março de 2009 que comecei a trabalhar efetivamente no curso de Pedagogia, como professora e, desde então, quase 13 anos se passaram.
Denise Rampazzo: estou no Singularidades há 11 anos.
Franciele Busico: Eu fui contratada pra primeira turma de funcionamento do Singularidades, que foi em 2002. Na verdade, a gente se organizou em 2001, e em 2002 a faculdade abriu, e eu dei aula de História da Educação para a primeira turma, logo no início da faculdade. Em 2008, eu entrei na Prefeitura de São Paulo, e aí os horários ficaram um pouco difíceis de conciliar, e em 2012 eu voltei oficialmente. Então, eu considero que eu tô esses 20 anos lá.
2 – Como era o Singularidades naquele momento?
Elisabeth: naquela época, o Singularidades era um pequeno espaço na Avenida Brigadeiro Faria Lima, ocupando ainda a metade de uma casa geminada.
Denise: quando comecei a trabalhar no Singularidades, a faculdade ainda ficava no prédio da Faria Lima, tinha bem poucos alunos e tudo funcionava de um jeito bem caseiro. A infraestrutura era mínima, o clima de trabalho era muito bom e as relações com os alunos era ótima.
Fran: Nesse começo éramos poucas pessoas, e em algumas coisas muito engraçadas: tínhamos só um retroprojetor, então era uma escala muito difícil de fazer. Então eu subia escada, descia escada com o retroprojetor, alguém usava no começo da aula e a outra pessoa usava no final… Imagine você, como a gente faria hoje, sem computador na sala! A gente nem lembra dessas coisas, mas eu lembro que 2002 foi assim.
3 – Quais as primeiras lembranças que você guarda desta fase?
Elisabeth: eu me lembro que nosso trabalho era muito artesanal e personalizado. Toda a equipe docente se reunia semanalmente, às segundas-feiras, ao meio-dia, para discutir estratégias de intervenção, a fim de garantir a aprendizagem dos estudantes.
Denise: Foi a primeira vez em que estive em uma instituição de educação que se preocupava sinceramente com a formação dos seus alunos. Sempre discutíamos como aprimorar estratégias e realizar intervenções que não deixassem nenhum aluno para trás. Eu já atuava na área de educação há vários anos e foi o primeiro lugar em que essas discussões eram de verdade e todos estavam compromissados.
Outra coisa que me impressionou muito foi a diversidade dos alunos. Sentavam-se na mesma sala de aula judias ortodoxas, moradores de comunidades que tinham bolsa de estudos, pessoas de classe média que já tinham uma graduação, enfim, o ambiente era muito rico e não conheço outra instituição onde isso acontecesse.
Franciele: acho que a lembrança que tenho dessa fase é daquele primeiro prédio, lembranças engraçadas, essa coisa de um único retroprojetor, ou das salas de aula pequenininhas. Então é essa lembrança boa, de dar tudo certo, do sufoco inicial, de todo mundo com a mão na massa, de todo mundo fazendo um pouco de tudo, e do grupo ser bastante coeso, bastante unido.
São lembranças muito boas, dessa luta inicial, pra esse projeto sair do papel. Um projeto muito bom, muito bem escrito, muito bem fundamentado, que tinha tudo pra dar certo, e deu.
4 – O que mudou no seu trabalho da sua chegada ao Sing até agora?
Elisabeth: desde que entrei no Instituto Singularidades, ministrei várias disciplinas novas, vivenciei diferentes matrizes curriculares, orientei alunos e alunas em diferentes temas de pesquisa. Tornei-me docente em alguns de nossos cursos de pós-graduação. Fui responsável pelo Programa de Atendimento Psicopedagógico por vários anos. Além disso, tive a oportunidade de exercer a função de coordenadora algumas vezes, inicialmente em relação aos estágios curriculares, depois na pesquisa e, desde 2018, coordeno o curso de pós-graduação em Psicopedagogia.
Denise: tenho mais turmas, trabalhos na consultoria e muito mais reuniões de planejamento. Hoje, sinto que o trabalho é menos “caseiro” e mais profissional, há mais recursos. A intencionalidade continua a mesma, mas é preciso articular muito mais pessoas e ações para efetivar o trabalho.
Fran: eu aprendi muito. Acho que o que mudou é que enquanto ensinava, fui aprendendo, como dizia Paulo Freire, porque não se trata só de um movimento de mão única, é um movimento de troca. Então, eu aprendi muito ao longo desses 20 anos, conheci muita gente bacana, tantos colegas quanto os nossos e as nossas estudantes. Tem sido muito gratificante estar neste projeto tanto tempo e acompanhar as mudanças educacionais.
5 – Quais as principais mudanças da atuação educacional de lá pra cá?
Elisabeth: desde o início do nosso projeto educacional, em 2001, buscávamos uma formação profissional voltada para a prática, com estágio curricular já no primeiro semestre do curso, e um currículo voltado para a formação integral dos licenciandos e licenciandas, com ampliação do repertório cultural e uma visão crítico-reflexiva da sociedade. Ao longo dos anos, esse desejo de fazer a diferença na educação básica, por meio da formação de profissionais mais capacitados foi se tornando uma realidade, com nossos estudantes sendo contratados em escolas da rede privada e sendo aprovados em concursos para atuar também na rede pública.
Denise: não percebo tantas mudanças. Acho que estamos aprendendo sempre, como já fazíamos no início, e nos aprimorando enquanto educadores. As mudanças na sociedade e na própria área da educação têm sido acompanhadas e isso me parece uma consequência do passar do tempo. Ser educador é aprender sempre, com nossos alunos, colegas, teóricos e pensadores da área de educação e da sociedade.
Franciele: foram muitas mudanças nos aspectos educacionais. Pra mim foram mudanças, inclusive, do meu fazer, dessa transição da rede privada para a rede pública, e de tomar pé dessa realidade difícil que tem sido o desmonte da educação pública. Eu acho que principalmente isso tem sido muito difícil pra mim, e tem sido muito pauta de discussão nas disciplinas que eu dou, principalmente em relação ao papel do professor.
6 – O que você espera destes próximos anos do Sing?
Elisabeth: para os próximos anos, espero que possamos nos aproximar mais das escolas públicas, de modo a estabelecer parcerias que atendam as necessidades das comunidades mais carentes. Também desejo que consigamos criar mais equidade na nossa sociedade, por meio de uma educação de qualidade, cada vez mais antenada com as demandas contemporâneas.
Denise: continuar fazendo o que sempre fizemos: formar educadores capazes de realizar a transformação na sociedade por meio da educação. Que tenhamos cada vez mais alunos e possamos impactar de maneira mais efetiva a educação do país.
Fran: espero continuar a ver o Singularidades crescer cada vez mais, e poder contribuir com o meu conhecimento, com as minhas atuações políticas da educação, porque a educação é um ato político, um ato de transformação. Então, eu espero poder contribuir cada vez mais para essa compreensão da realidade educacional e, principalmente, trazer muitos e muitas estudantes pra rede pública.
Elizabeth Reis Sanada é doutora e mestre em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo (USP). Psicóloga, psicanalista, pesquisadora e autora de artigos e capítulos de livros na área de Psicanálise e Educação. Foi professora de Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental durante oito anos. É professora do Instituto Singularidades desde 2009 e coordenadora da pós-graduação em Psicopedagogia da Instituição.
Denise Rampazzo é mestre em educação pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da pedagogia no Instituto Singularidades
Franciele Busico Lima é bacharel em História e mestre em Estética e História da Arte pela Universidade de São Paulo (USP), além de diretora do Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos – CIEJA Perus I, na rede municipal de ensino de São Paulo. É professora da licenciatura em Pedagogia do Instituto Singularidades.
Conheça outras memórias sobre a nossa trajetória ao longo destes 20 anos aqui. Venha celebrar esta data tão importante com a gente!
Para saber mais: http://institutosingularidades.edu.br/novoportal/
Entre em contato: [email protected]