A escola não pode ser apenas entendida como uma preparação para a vida, pois a escola é a própria vida. A frase acima do filósofo norte-americano John Dewey inspirou as propostas desenvolvidas no curso de Pedagogia do Instituto Singularidades, que trabalham com as competências socioemocionais dos alunos, futros professores.
Em crítica à escola tradicional e a modelos cristalizados de ensino, o autor afirma que o resultado desse engessamento é “a perda da própria vontade de aprender; da curiosidade intelectual para aquisição do conhecimento”. Sendo assim, uma de nossas principais preocupações é formar o aluno de Pedagogia, futuro professor, por meio de estratégias diferenciadas, que possam ser transpostas para a sua prática.
Em outras palavras, falamos daquilo que Donald Schön chamou de Homologia dos Processos. Trata-se de um princípio para a formação, cuja aplicação não é direta, mas que pode ser apreendido ao ensinarmos, utilizando-nos e problematizando as mesmas estratégias que pretendemos que nossos alunos aprendam e incorporem em seu cotidiano profissional. Assim, se falamos de autonomia, não podemos ensinar de forma hierarquizada, de modo a promover a heteronomia, por exemplo.
Gestão compartilhada
Um dos aspectos enfatizados na formação de professores e vivenciado pelos alunos é a experiência de gestão compartilhada da sala de aula. Entre as disciplinas em que os alunos atuam desta maneira, a de Práticas Educacionais na Educação Infantil se desenvolve de forma articulada com os estágios curriculares, propondo-se a tematizar as propostas pedagógicas realizadas com crianças de 0 a 3, e de 4 e 5 anos.
No decorrer das aulas, há a possibilidade de participação ativa no processo de tomada de decisões, o que envolve diversas atividades em que os futuros professores experienciam a organização dos agrupamentos, dos espaços, materiais e conteúdos, antevendo possíveis problemas, regulando os tempos de preparo, de execução e de socialização da atividade, as formas de registro e as interações com os colegas e com o professor.
Isso contribui para que desenvolvam uma didática melhor, para que se engajem mais e que se corresponsabilizem pelo próprio processo de aprendizagem.
Acreditamos que um trabalho por esta via capacite os futuros professores a aprender de modo mais significativo, uma vez que vivenciam o processo, e não apenas o apreendem de forma teórica, desconectada da vida real.
Competências socioemocionais na gestão compartilhada
Além da gestão compartilhada em sala de aula, outro aspecto muito importante, ligado às competências socioemocionais, tão discutidas nos dias de hoje, diz respeito à possibilidade de desenvolver o trabalho colaborativo e criativo e, neste quesito, temos debatido a influência da tecnologia sobre as formas de ensinar e aprender na atualidade.
O aluno que chega à escola de Educação Básica é um nativo digital. Isto traz outra maneira de lidar com os conhecimentos, outra forma de organizar o conhecimento e de questionar os saberes e conteúdos da cultura.
Também exige outro posicionamento por parte do professor, incluindo fluência no uso dos recursos digitais e a capacidade de gerir todo o conhecimento prévio que seus alunos trazem, algo que extrapola em muito os conteúdos formais.
Por isso, para se constituir um bom profissional em Educação é preciso vivenciar o que é a linguagem tecnológica, além de seus impactos na relação entre ensinar e aprender, para as interações na escola.
Para tanto, os alunos, futuros professores, trabalham conectados entre si e amparados por diversas ferramentas e recursos tecnológicos que facilitam um fazer criativo, colaborativo e de coautoria.
A utilização de recursos tecnológicos, como o uso de plataformas de aprendizagem online, modelo de sala de aula invertida, rotação por estações e outros elementos da abordagem de Ensino Híbrido, confrontam o professor com novas demandas.
Ao mesmo tempo, abrem espaço para o protagonismo dos alunos, tornando-os mais capacitados para lidar com situações-problema, reais em sua maioria, advindas do contexto de estágio, no qual os alunos estão inseridos desde o primeiro semestre do curso.
Uma das disciplinas que seguem esta lógica é Conexão entre Mente e Cérebro, na qual são ministrados conteúdos relacionados a Neurociências e Educação.
Discute-se a necessidade de rever as formas de ensinar, de aprender e de olhar para além das questões cognitivas, admitindo-se a existência de um ser integrado, que se compõe por aspectos socioemocionais que necessitam ser trabalhados.
Para isto, os alunos desenvolvem pesquisas sobre o funcionamento do encéfalo, e analisam as consequências da plasticidade cerebral para o desenvolvimento e aprendizagem das crianças e adolescentes.
São utilizados a plataforma do Moodle e outros conteúdos da web, como testes de autoconhecimento, vídeos, atividades interativas, entre outros.
Assim, formamos na linha dos quatro pilares da Educação proposta por Jacques Delors, isto é, problematizando e vivenciando o que significa “aprender a aprender”, “aprender a fazer”, “aprender a conviver” e “aprender a ser”.
Isto propicia aos licenciandos atuar efetivamente sobre a realidade, desenvolvendo projetos de intervenção, articulando teoria e prática, trocando pontos de vista com colegas, imersos num ambiente rico em diversidade de percurso acadêmico, social, econômico, étnico, religioso etc.
Esta variedade de perfis faz das salas de aula do Instituto Singularidades um recorte do macrocosmo de uma grande cidade como São Paulo, com todas as suas tensões e incoerências, formando na vida como ela é, e preparando o aluno para agir no “aqui-e-agora”.
Diante do fato de que cada aluno possui diferentes formas de aprender, é preciso diversificar as formas de ensinar. Em resposta a esta demanda, o aprendizado contextualizado, vivencial e articulado por diversas estratégias, compartilhado em grupos com integrantes com conhecimentos e experiências diversas, propicia uma enorme gama de trocas.
Este processo amplia ainda mais a mapa neuronal dos alunos e possibilita que eles sejam capazes de ampliar seu repertório de conhecimentos e saberes, podendo se constituir em células reprodutoras desse legado, isto é, agentes transformadores em outros contextos de aprendizagem e dentro da própria sociedade em que atuam.
Elizabeth Reis Sanada é doutora e mestre em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo (USP). Psicóloga, psicanalista, pesquisadora e autora de artigos e capítulos de livros na área de Psicanálise e Educação. Foi professora de Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental durante oito anos. É professora do Instituto Singularidades desde 2009.
Para saber mais: www.institutosingularidades.edu.br
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