Aprender biologia numa visita ao jardim botânico, compreender o processo de fermentação por meio da confecção de um bolo, ou mesmo compreender conceitos de física – como comprimento de ondas – por meio do rádio? Estes são três exemplos de transposições didáticas, práticas pedagógicas que vêm ganhando destaque entre os educadores por tratarem de transformar o saber científico em um outro formato que possa ser ensinado e absorvido de forma mais efetiva pelo aluno.
Ainda que a nomenclatura pareça nova, estas práticas vêm sendo aplicadas nas escolas de todo mundo há algum tempo. “O ensino sofre transformações o tempo todo. Por exemplo, para um professor tratar de um livro escrito em 1950 com os alunos de hoje, ele precisa fazer essa adequação na linguagem para que a aula funcione e o conteúdo seja absorvido da maneira esperada”, comenta o professor Valdir Silva, que vem fazendo vários estudos a respeito destas práticas no Instituto Singularidades, onde além de lecionar matemática é Coordenador de Relações Interinstitucionais.
Valdir explica que as linguagens e as transposições são a base da sala de aula. Segundo o professor as disciplinas – e a educação de forma geral – são um organismo vivo, que se transformam conforme a sociedade muda. “Tornar o saber científico em saber prático, aplicável à vida do aluno, passa pela matriz curricular e tem de ter um planejamento cuidadoso, de forma bem codificada”, comenta.
Ensinar a partir do território do aluno
Um ponto fundamental nas transposições didáticas é partir do território do aluno, levando em conta o universo que o cerca, algo que se aproxima da filosofia de Paulo Freire, para quem a educação “qualquer que seja ela, é sempre uma teoria do conhecimento posta em prática”. Essas práticas e percepções individuais devem ser significativas para o aluno, aproximando-a do conteúdo ministrado.
Segundo Valdir, a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) já traz em si a necessidade da transposição, permitindo que os alunos tenham acesso a outros recursos que não só os disponíveis em sala de aula, além de permitir o apoio da sua comunidade e família na aprendizagem, tornando-a ainda mais significativa e próxima de seu dia a dia.
Pela BNCC e por meio das transposições, os alunos passam a ser protagonistas de seu aprendizado. O professor, por sua vez, passa a ser mediador do conhecimento, mas não o detentor dele: é em parceria com o estudante que este conjunto de saberes será construído de diversas maneiras, que podem incluir ou não as ferramentas tradicionais de estudo.
Planejar para transpor
A importância do planejamento em todos os níveis da educação básica já é amplamente conhecido e debatido, mas para os professores que pretendem trabalhar com as transposições didáticas na base, elas se fazem urgentes.
“O livro, por exemplo não pode ser o material primário da aula, mas há que ser criado um plano de acordo com as necessidades da turma, permitindo que os alunos projetem o conteúdo da maneira que preferirem ”, comenta Valdir, para quem outros elementos e ambientes devem ser incluídos na educação que não apenas a sala de aula e o espaço escolar.
E deste planejamento fazem parte elementos fundamentais como a linguagem, que deve se aproximar do aluno, conquistá-lo e mantê-lo engajado nos conteúdos. Os textos e as leituras devem trazer elementos relacionados à vida do estudante em todas as suas esferas de atuação. Entretanto, este trabalho cuidadoso de transposição cabe ao professor.
Valdir reforça que, para estarem aptos a trabalhar com estas técnicas de forma mais efetiva e suave, é fundamental que os professores-alunos sigam estudando e se mantendo atualizados. “Realizar formação continuada permite que os professores ganhem experiência e consigam fazer este processo de uma forma melhor”, salienta.
Novos espaços e estímulo ao engajamento do aluno
O professor explica que um dos pontos importantes das transposições didáticas é ampliação do espaço educacional em qualquer lugar, e não apenas a sala de aula. Ocupar ruas, parques ou mesmo espaços dentro da própria escola – como a cozinha, o pátio, as quadras, os laboratórios (ainda que a aula seja de língua portuguesa, por exemplo) é fundamental para atingir o aluno.
“Hoje já não temos unicamente as aulas expositivas como opção, há muitas opções de metodologias ativas que propõe atividades diferenciadas, como as salas de aulas invertidas, as estações por rotação, as gamificações, os podcasts, a resolução de problemas reais, os projetos de aprendizagem, o serviço solidário e o trabalho com o pequenos grupos, dentre outros. Metodologias atuais, inovadoras e coerentes, que produzem significados para novas perspectivas educacionais, como nós no Singularidades”, recorda Valdir.
Ele dá alguns exemplos de como essas transposições práticas podem ser feitas. “Por meio da confecção de uma poltrona de garrafa de PET (que vai ensinar ao aluno a importância de dar novos usos a materiais descartáveis), caixas de som (que abarcam da poesia à física e a matemática), até um bolo que todos façam e comam ao final (e, de quebra, aprendam o processo químico da fermentação e o trabalho em equipe)”.
Valdir Silva é Coordenador de Relações Interinstitucionais do Instituto Singularidades e Professor de Matemática
Para saber mais: http://institutosingularidades.edu.br/novoportal/produto/segunda-licenciatura-matematica/
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