Formar estudantes ativos e com flexibilidade nas sociedades globalizadas é um dos principais objetivos da educação. A sociedade atual apresenta características culturais e linguísticas múltiplas e com diversas possibilidades tecnológicas. Neste contexto, os estudantes esbarram em novos tipos de textos, diversidade de vozes, opiniões e visões de mundo que fazem parte das relações sociais.
Novos tipos de textos
Sobre esse aspecto, que destaca a forma textual, nós temos que considerar como as sociedades contemporâneas refletem sobre a diversidade de modos de usar a linguagem em textos escritos e orais.
Existem vários modos como os textos são produzidos, que são bem diferentes das formas de textos tradicionais que fazem parte da cultura escolar, como romances, textos de livros escolares, poemas, artigos de jornal etc.
Os avanços tecnológicos possibilitam produzir e distribuir conteúdos multimodais: textos que combinam uma variedade de modos de produzir sentido, como por exemplo, os linguísticos (fala, escrita), o visual (imagens), os auditivos (sons) e o gestual (gestos/movimentos).
Podemos dizer que a sociedade atual se constitui como um grande ambiente multimodal, disponível em mídias sociais, blogs, sites ou até mesmo mensagens instantâneas.
Consequentemente, nós podemos observar que esses novos modos de comunicação se colocam de forma importante para a formação de opinião, de cultura e de produção de conhecimento em sociedades.
Portanto, temos que incluir esses novos textos dentro do currículo de nossas escolas e preparar nossos estudantes para entender, analisar, produzir, posicionar e reagir a estes tipos de textos.
Isto inclui a necessidade de que escolas tenham acesso à internet e à equipamentos compatíveis, assim como ao aprendizado de utilização dessas tecnologias.
Nesse sentido, alunos e professores precisam desenvolver novas competências de leitura e escrita que estes novos tipos de texto exigem, conforme aponta o novo documento que trata dos direitos de aprendizagem na educação básica, a Base Nacional Curricular Comum (BNCC).
Multiplicidade de vozes
Esta questão está ligada à negociação de sentidos e significados na compreensão dos textos. Um aspecto muito importante hoje em dia nas práticas escolares refere-se a como a escola prepara os alunos para viver em sociedades modernas, nas quais há confrontos constantes com o diferente.
As práticas de letramentos possibilitam que os estudantes transitem em todas as práticas sociais que fazem uso da leitura e da escrita, tomando partido a partir de suas crenças, valores ou posições políticas, a fim de permitir-lhes exprimir satisfatoriamente suas ideias e entender posicionamentos divergentes.
Ser crítico possibilita uma consciência mais elevada das convicções e ideologias que incorporamos inconscientemente e irrefletidamente no nosso pensamento, nas nossas palavras, nos nossos escritos e na compreensão de outros textos.
Uma perspectiva crítica pressupõe repensar e discutir nossos pensamentos e opiniões, que muitas vezes estão cristalizados e que não nos damos conta disto.
Por exemplo, o que significa ser homem e mulher em uma determinada sociedade? Quais são as características de uma “família ideal” antes e hoje?
Nós temos que entender que ver o mundo de maneira individual não é algo “natural”. Entretanto, nossos pensamentos, opiniões, sentimentos e experiências são inventadas por nossa individualidade como seres humanos, mas também devido a como e onde fomos criados e educados em nossas famílias, escolas ou ambientes.
Afinal, ser crítico significa questionar sua própria opinião quando ela se depara com posições diferentes, trazendo convergência ou divergência, uma vez que nossos pensamentos são construídos coletivamente.
De acordo com Paulo Freire — filósofo e pensador brasileiro (1921–1997) — nossa identidade somente se constitui e se define no confrontamento dela com o outro, uma coisa diferente da nossa própria.
Nessas situações de estranhamento, é importante perguntar: “Por que estou pensando assim?”, “Por que estou afastado pelo outro?”
Isso não é uma coisa fácil de fazer, uma vez que exige questionar crenças e atitudes que tocam nossas identidades assumidas e leva à desestabilização de verdades pré-estabelecidas. Mas trata-se de algo muito importante, porque temos que perceber que nossa própria identidade, nossas visões de mundo e opiniões também podem ser estranhas para os outros.
E questionar a própria identidade, tentar obter uma perspectiva diferente é a única maneira de adquirir aceitação e respeito pelo outro.
Considerando as demandas atuais e as preocupações que a escola do futuro precisa considerar, as aulas do curso de licenciatura em Letras do Instituto Singularidades, especificamente nas disciplinas ‘Gêneros do Discurso e sua Didática” e “Estudos sobre (Multi)Letramentos, Multimodalidade e Multiculturalidade” abordam os modos de pensar e agir com os textos multimodais e as suas capacidades e procedimentos de leitura e escrita, enfatizando uma postura mais crítica e reflexiva com base em uma visão ética e cidadã.
Maurício Canuto é mestre em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e formado em Letras (Português). Atua como professor de língua portuguesa na rede municipal de São Paulo e é professor do curso da licenciatura em Letras do Instituto Singularidades.
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