Ao tratar de crianças que haviam sido separadas do restante de sua família devido à Segunda Guerra Mundial, o psicanalista e pediatra Donald Winnicott valorizou a importância do brincar no desenvolvimento do indivíduo em seus primeiros anos, e de como esse ato é decisivo na formação da personalidade individual. Essas conclusões são até hoje grandes ferramentas para educadores de todo o mundo.
Nascido em 1896 em Plymouth, na Inglaterra, Donald Woods Winnicott nasceu numa família rica de comerciantes, o que lhe permitiu cursar medicina em Cambridge, plano que foi interrompido quando foi convocado para servir como cirurgião-assistente na Primeira Guerra Mundial, a bordo de um navio britânico. De volta das batalhas, ele terminou sua formação em 1920.
Três anos depois, casou-se com Alice Taylor, de quem divorciou-se em 1951, quando casou-se com Elsie Clare Nimmo Britton. Ainda em 1923, Winnicott foi contratado como médico no Paddington Green Children’s Hospital em Londres. Em 1927, ele foi aceito como iniciante na Sociedade Britânica de Psicanálise e recebeu a qualificação de analista sete anos depois, bem como de analista de crianças, em 1935.
A construção do brincar no desenvolvimento infantil
Em seu trabalho como pediatra, Winnicott teve contato direto com os
problemas infantis, como consultor psiquiátrico do governo britânico, tratando de crianças afastadas dos pais na Segunda Guerra Mundial.
Interessado pela construção da identidade infantil, ele baseou-se em sua própria experiência infantil, como filho de uma mãe superprotetora e com problemas psiquiátricos. Foi a partir daí que, ainda pequeno, ele passou a ler os textos do cientista Charles Darwin e a se interessar pela pesquisa científica.
Já adulto e pediatra, teve contato com a obra de Sigmund Freud, fez terapia e passou a frequentar o famoso grupo de Bloomsbury, que reunia alguns dos precursores na psicanálise, do qual fazia parte a escritora Virginia Woolf.
Mas foi a chegada da psicanalista Melanie Klein a Londres, em 1926, uma das maiores especialistas em análise infantil de todos os tempos, que mudou a visão de Winnicott para sempre.
Klein valorizava a importância suprema do primeiro ano da vida da criança, ideia compartilhada por Winnicott. A psicanalista foi uma das primeiras especialistas a defender a ideia de que a brincadeira deveria fazer parte do trabalho com as crianças.
Discípulo de Klein, Winnicott deu um novo significado à brincadeira, colocando o ato de brincar do analista como uma atividade infantil fundamental, e que também deve fazer parte do mundo adulto. Para ele, “brincar é algo além de imaginar e desejar; brincar é o fazer”.
O cuidado materno
Ao nascer, cada ser humano traz um potencial para amadurecer e para se integrar, de acordo com Winnicott. Porém, o fato de cada indivíduo trazer consigo esta aracterística não determina que isso realmente acontecerá. Isso dependerá de um ambiente que ofereça à criança os cuidados que ela precisa.
Segundo o psicanalista “a mãe suficientemente boa” – que não precisa ser exatamente a própria mãe do bebê, mas também uma cuidadora ou professora – é quem trabalha em uma adaptação ativa às necessidades da criança.
Para Winnicottt, não basta que a mãe-cuidadora ofereça atividades físicas ao pequeno, mas também outras que estimulem sua imaginação e explorem outras características dele.
A capacidade da mãe em se identificar e conectar-se com o filho é traduzida por Winnicott na expressão holding (segurar, dar colo, no português). O colo da mãe ou da cuidadora é fundamental para que a criança sinta-se segura e livre para experimentar outras sensações, toques e, consequentemente, aprendizagens.
O objeto de transição
Para Winnicott, a mãe ou cuidadora precisa lidar com a transição do bebê da dependência absoluta dela para a relativa, uma etapa que é essencial para o seu amadurecimento.
É aí que entra a importância de um objeto transacional, que facilita esse processo. Ele pode ser um cobertor, um ursinho de pelúcia, outro brinquedo ou qualquer outra coisa com o qual o bebê sinta-se tranquilo e conectado.
No início da passagem da dependência absoluta para a dependência relativa, esses objetos servem como amparo por substituírem a mãe, que ao gradualmente se afastar, desilude o bebé. Esta fase demarca o início da quebra da unidade mãe-bebê.
Nesse processo de mudança da dependência absoluta até a relativa, Winnicott definiu três realizações principais: a integração, a personificação e o início das relações objetivas.
É dentro deste período de dependência relativo que o pequeno experiencia estados de integração e não integração, desenvolve conceitos de “eu e não-eu, identifica o mundo externo e o interno, e pode seguir, desta forma, em seu crescimento e amadurecimento.
Nesta fase, o bebê irá desenvolver meios para poder depender totalmente do cuidado maternal. Esse objetivo é alcançado por meio das memórias de maternagem e do reconhecimento por parte daquele pequeno indivíduo do cuidado maternal, que será uma ferramenta imprescindível no desenvolvimento da confiança no ambiente e nos outros com quem ele passará a ter contato além da mãe (professores, cuidadores, colegas etc).
Winnicott reforça que independência nunca é absoluta. Segundo ele, o indivíduo sadio não se isola, mas cria formas de se relacionar com o ambiente para que sejam interdependentes.
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