O Slam surgiu nos Estados Unidos na década de 80 como uma manifestação cultural, com a ideia de fazer a poesia “descer as ruas”, na lata, na pressa da dinâmica das cidades. A palavra de origem inglesa quer dizer “batida”, mas foi na França que o movimento cultural e social ganhou força e uma cara essencialmente poética, a partir da década de 90. No Brasil, os Slams ainda são pouco conhecidos, talvez por falta de divulgação e/ou incentivo.
E o que isso tem a ver com educação? Continue a leitura para descobrir
Como uma guerra poética, os participantes de um Slam declamam, leem, movimentam o corpo, improvisam e disputam com outros slammers por meio do texto, como num repente moderno. É comum ouvir gritos como “Pow. Pow. Pow”, “Creedooo”, “Esse é o SlamPeão”!
Na cidade de São Paulo, o Slam da Guilhermina já é bem popular, mas quando começou, há alguns anos, tinha um público pequeno e um número de “batalhas”, ou disputas entre os poetas, bem reduzido.
O Slam da Guilhermina
O Slam da Guilhermina não é o único da cidade de São Paulo e nem o primeiro, mas já existe desde de 2012. Os criadores são Emerson e Cristina Assunção, Rodrigo Motta e Uilian Chapéu. Os organizadores têm atividade paralelas diversas, desde a docência até o trabalho como fotógrafo e outras atividades “comuns”, isto é, não diretamente ligada à arte e à literatura.
O evento acontece ao ar livre (faça chuva ou faça sol!), ao lado de uma estação de metrô (estação Guilhermina-Esperança, daí o seu nome), na periferia da cidade. Local, espaço, horário, estética não foram escolhidas à toa, pois levar poesia e arte a um espaço periférico e da maneira como é realizado foi e tem sido, segundo seus organizadores, um ato de resistência.
São esses mesmos organizadores, aliás, que pensaram em tudo: o horário (para fazer as pessoas saírem da mesmice na semana e ter um momento de lazer), o local (um lugar que tem poucos eventos culturais) e o formato (pensado de modo a que todos participem, de trabalhadores a caminho de casa a moradores do bairro).
Assim, todos (até mesmo moradores de rua!) podem pegar o microfone e lançar ao púbico suas palavras, pois como afirmam os organizadores do evento, a poesia é de todo mundo.
Os temas são um caso à parte: geralmente são inquietações nascidas da realidade dos excluídos, com ataques ao contexto político, demandas sociais, desabafos de toda ordem, quase sempre de uma perspectiva crítica, prezando pela liberdade e rejeitando qualquer tipo de opressão.
Retomando a questão do começo do texto: e o que isso tem a ver com educação? Infelizmente, com a escola, quase nada. Com formação de leitores, produção de texto (oral e escrita) e práticas de letramento, absolutamente tudo.
Os Slams têm mostrado para o grande público, especialmente da periferia, que todos temos direito à palavra e à fruição estética; todos podemos ter voz e não só as vozes reconhecidas pela academia podem e devem ser ouvidas. Eles também nos ensinam que uma praça pode ser um espaço de aprendizagem, e que a literatura não tem dono: assim como a língua, ela é um direito de todos.
Cientes disso, o grupo do Slam da Guilhermina já tem conseguido chegar às escolas públicas paulistanas: em sua 3ª edição, o Slam Interescolar engaja pré-adolescentes e adolescentes a pegarem nos microfones e apresentarem suas produções, num evento que hoje já envolve 40 escolas, promovendo a leitura, a escrita literária, a formação crítica dos alunos, sem nos esquecermos de que se trata de uma das práticas mais atuantes (e atuais!) de educação não formal.
Slam na formação de educadores
Por isso, seja como futuros educadores, seja como cidadãos críticos em geral, é importante conhecer essa “nova” realidade de nossa cultura popular e urbana, inserindo-a no cotidiano escolar de alunos e professores.
A educação é um processo coletivo, democrático e real, que deve deslocar-se do que é imposto no livro didático e na rigidez do espaço formal da sala de aula para todos os espaços possíveis em que, de alguma maneira, todos ensinam e aprendem algo. E, principalmente, sem grilhões e amarras!
Afinal, como diz um trecho do “grito de guerra” do Slam da Resistência, um dos mais ativos e críticos da cidade de São Paulo, “sem massagem na mensagem!”.
Márcia Moreira Pereira possui graduação em Letras: Português-Inglês, pós-graduação lato-sensu em Tradução: Inglês-Português e é mestra em Educação pela Universidade Nove de Julho (Uninove). É doutora em Letras na Universidade Presbiteriana Mackenzie (Uni-Mackenzie) e professora do curso de licenciatura em Letras do Instituto Singularidades.
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