As redes sociais popularizaram o conceito de algoritmo nos últimos anos. As postagens das páginas de Facebook que aparecem na sua timeline, as fotos dos amigos que você vê no Instagram e as listas de músicas criadas com exclusividade para as suas preferências no Spotify nasceram de algoritmos, que nada mais são que regras e procedimentos previamente definidos (neste caso, por meio de programação), que têm esses e muitos outros usos no mundo da internet.
Mas esse conjunto de processos não se restringe ao mundo do coding. Ele pode ser observado na natureza, na humanidade e nos ambientes criados e ocupados por ela, como a escola.
O professor e pesquisador israelense Yuval Noah Harari defende a ideia de que o algoritmo “é o conceito mais importante do nosso mundo”. Em seu livro Homo Deus, ele defende a ideia de que, se queremos compreender melhor a nossa vida e nosso futuro, temos de entender que este conceito pode se aplicar à várias coisas.
As emoções, por, exemplo podem ser consideradas algoritmos bioquímicos, necessários à sobrevivência não apenas da espécie humana, mas de todas as outras presentes em diferentes ecossistemas.
Tendo esta ideia como ponto de partida, pode-se definir como um algoritmo qualquer coisa que siga determinadas regras e métodos, previsíveis ou não. O comportamento de uma pessoa ou de um animal, uma receita de bolo, uma máquina de fazer café e até uma aula podem ser considerados algoritmos.
Assim, manter este contexto tão amplo e fascinante confinado ao mundo das redes sociais é deixar várias reflexões interessantes de lado, inclusive sobre o aplicação dele na escola.
Dados e algoritmos como auxiliares do professor
Se cada ser vivo pode ser considerado um algoritmo, então a vida seria um conjunto de relações algébricas, que seguem um determinado raciocínio lógico? Para o educador Miguel Thompson, a resposta é sim.
Miguel justifica sua ideia com base em outro conceito do pesquisador Yoval Noah Harari, o dataísmo, que seria a confluência dos algoritmos bioquímicos com os tecnológicos, no qual os primeiros seriam ajudados e decifrados pelos segundos que, em algum momento, ganhariam esta corrida – o que para outros teóricos é considerado um exagero. “Este novo paradigma geraria novas relações de causa e efeito, de como os outros elementos podem ser criados e conectados”, explica.
O próprio Harari comenta no livro citado anteriormente, depois de analisar como a liberdade de trocas de informação e tecnologia (por exemplo, sistemas open source, como o Linux, que funcionam colaborativamente) atua em diversas esferas da vida, seja ela a política, a academia ou a cultura, e que sem um algoritmo específico – os sentimentos e o olhar humano – dificilmente essa evolução aconteceria.
Transpondo tudo isso para o mundo da educação, Miguel comenta que os educadores e gestores educacionais devem se inspirar neste racional da “fórmula”, que é o algoritmo, para melhorar sua capacidade de observação, conhecer melhor a cultura de sua escola, de suas aulas ou da sua gestão.
“O algoritmo da sala de aula é o “I-You-We” (“Eu, Vocês, Nós”). O professor (I) propõe um problema, o contextualiza, provoca o engajamento dos alunos (You) por meio de alguma referência ou anedota; os alunos questionam e ao fim há o diálogo, uma troca entre as duas pontas (We). O desafio do professor de hoje e do futuro é destrinchar isto, pensando algoritmicamente, olhando para os processos que podem ser decodificados e melhorados”, explica.
Miguel acredita que esse método possa ser uma diretriz na educação, pensando-a como uma origem de novas propostas pedagógicas a serem desenvolvidas com base na observação, e em como as relações entre este e os outros “algoritmos biológicos” – os alunos – reagem a estas propostas.
O algoritmo da estrutura escolar também deve ser equilibrado, juntando pessoas que pensem de forma semelhante “Numa escola na qual todos os professores são ‘IOS’ não dá para contratar outros que sejam ‘Windows’. Da mesma maneira que um pai, um funcionário ou outro membro da comunidade escolar não pode ser um ‘vírus,’ atrapalhando o andamento da construção conjunta de conhecimento e do projeto pedagógico esperado”, compara.
Miguel aposta que a criação deste pensamento algorítmico na escola ajudará o professor e o estudante tanto no presente quanto no futuro. “Temos de transformar o jeito da escola, estimulando e inspirando o aluno a ser um desenvolvedor – do que ele quiser – mais adiante. Ainda que aparentemente reducionista, pensar a escola como algoritmo estimula a autoria dos educadores em torno de ideias-chave, mas que permitam a todos desenvolver seus projetos sem perder a essência da escola”, conclui o educador.
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