No ano passado, o governo federal aprovou a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para a educação infantil e também para o Ensino Fundamental 1 e 2. Para os professores que atuam nesta primeira área e querem entender como a base irá nortear os currículos e práticas em sala de aula daqui para a frente foi criado o curso “BNCC na Educação Infantil”, concebido pela professora Sonia Vidigal.
De maneira prática e fazendo uso de uma linguagem bastante acessível, o curso de 10 horas apresenta as mudanças do processo de aprendizagem propostas pela BNCC por meio de recursos e materiais de apoio que serão grandes ferramentas no desenvolvimento de planejamentos pedagógicos.
Na aula inaugural do curso – que está disponível aqui – Sonia recorda que a aprovação da BNCC é um processo que vem acontecendo há algum tempo, com discussões em vários níveis e em todo o país, mas que sua aprovação não significa que todo o conhecimento e as práticas docentes serão jogadas fora. “A gente tem de entender o que tem de aprimorar, desenvolver e o que já faz dentro deste planejamento”, explica a professora.
Sonia salienta que o curso vai ajudar aos atuais e futuros docentes a organizar o que a BNCC propõe, de que forma e como desenvolver um planejamento consistente para a educação infantil. Alguns dos pontos mais importantes definidos pela nova base são os “Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento”, que têm origem nas diretrizes para a educação infantil, que comentamos a seguir.
Conviver
Sonia esclarece que o fato das crianças estarem todas juntas na sala de aula não quer dizer, necessariamente, que elas convivam. A professora comenta que a BNCC propõe aos professores questionar como e o quanto os alunos estão convivendo não apenas com seus pares, mas também com os adultos e outros membros da comunidade escolar.
“Será que elas estão tendo mesmo oportunidade de conviver, de serem espontâneas, de fazerem escolhas, tomarem decisões, viver junto do outro, de maneira que seja uma coisa dela própria e não direcionada o tempo todo pela escola, pelo educador ou pela escola, mediando aquele tempo?”, questiona a professora.
Brincar
Além de ser um direito de aprendizagem, o brincar também é colocado dentro da BNCC como um eixo estruturante da educação infantil – na base aparecem dois eixos estruturantes, que são a interação e a brincadeira, conforme explica Sonia.
“A brincadeira vem de uma maneira muito forte, porque ela é própria da criança, é a maneira com que ela se relaciona com o mundo, com a qual vai conseguir compreender as coisas e, por isso, não pode ser o tempo inteiro direcionada”.
Sonia conta que, em algumas escolas, quando os educadores comentam que as crianças estão “brincando livremente”, muitas vezes elas estão sentadas numa mesa, interagindo com um brinquedo escolhido pelo professor e, muitas vezes, também direcionado pelo ele.
“É obvio que ensinar o repertório de brincadeiras também faz parte do papel da escola, mas nós precisamos preservar esse momento de livre brincar, tentar compreender o que é aquele objeto, ou a sua vida por meio de objetos, brinquedos etc”, ressalta.
Participar
Sonia comenta que, como o brincar e o conviver, cabe ao educador questionar-se sobre se os alunos estão de fato participando das atividades. “Às vezes tem uma criança que gosta de falar menos, que é mais observadora, mais tímida, insegura, ou não gosta de falar, mas há pesquisas que já mostraram que para organizar o pensamento, mesmo que isso não seja na frente de todos o tempo todo, há uma demanda de outro nível cognitivo”, explica.
A professora, então, avalia que os educadores devem avaliar e buscar novas formas de incluir crianças tímidas e mais inseguras, assim como outras mais rápidas e extrovertidas. “Será que é só numa roda de conversa coletiva que eu vou pensar em todos aqueles? É isso que a gente tem de refletir todo o tempo”.
Explorar
Não existe um ato mais relacionado com a criança, que são exploradoras natas. Mas será que a escola e os professores estão dando espaço para que elas explorem? “Às vezes a gente acaba matando uma possibilidade de exploração, porque o olhar adulto antecipa a expectativa da criança. Eles precisam ter essa mirada investigativa e esta possibilidade de tentar falhar e, no entanto, na hora de ajudar, a gente acaba antecipando e deixando para lá o sentido do explorar”, provoca Sonia.
Para a professora, não há dúvida de que muitas atividades devem ser mais direcionadas e outras menos, mas na educação infantil o olhar, o testar e o comparar são direitos imprescindíveis para que os pequenos possam se desenvolver.
Expressar
É algo nato é que está vinculado a todos os outros direitos infantis. Quando uma criança quer se expressar, tem de mostrar algo que está pensando, saber que está aprendendo para que desenvolva alguns recursos, ou buscar alguns conhecimentos. Ou, ainda, que se dê conta de que estava buscando uma palavra pra dizer alguma coisa e não esteja achando, por exemplo.
Conhecer (a si e ao outro)
Para a criança, o ato de conhecer-se e ao outro está vinculado ao fazer este reconhecimento de mim por meio do outro, e vice-versa. “Eu me configuro pelos olhos dos outros e, por perceber o outro, eu percebo o grupo, analisa Sonia.
Campos de experiência
Além dos “Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento”, a BNCC estabelece cinco campos de conhecimento, separados em faixas etárias (a primeira vai até 1,5 ano; a segunda, de 1,7 meses a 3,11 meses, e depois, crianças de 4 a 5,11 meses).
O primeiro deles é chamado Eu, o Outro e o Nós, que se trata de fazer com que os alunos percebam que as pessoas têm características físicas diferentes, respeitando estas diferenças.
Outro campo de experiências é Corpo, Gestos e Movimentos, que se relaciona com tudo o que se trata de mexer o corpo, de gestos e de expressões faciais. Nada mais relacionado com a infância que este campo.
O terceiro é chamado Traços, Sons, Cores e Formas, que contempla vários objetivos. “Nem todos os objetivos educacionais estão relacionados com todos os campos de experiência, mas entre si”, conta a professora.
Escuta, Fala, Pensamento e Imaginação se relaciona à linguagem oral, à criação, ao contar histórias, ao representar e também ao encenar.
Finalmente, o quinto campo é “Espaços, Tempos, Quantidades, Relações e Transformações” e abarca as transformações que se pode ver com as crianças, as relações e a construção do raciocínio lógico-dedutivo.
Sonia Vidigal é mestra e doutora em educação pela Universidade de São Paulo. É professora do curso de pedagogia do Instituto Singularidades e criadora do curso BNCC na Educação Infantil.
Para saber mais: http://institutosingularidades.edu.br/novoportal/produto/bncc-na-educacao-infantil/
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