Quando se fala das grandes mudanças que a educação brasileira sofreu no século XX, um nome jamais pode ser deixado de lado: Anísio Teixeira (1900-1971), que foi educador, jurista, intelectual e escritor, responsável pela implantação da escola pública em todos os níveis, e defensor da escola democrática e acessível a todas as crianças.
Nascido Anísio Spínola Teixeira em Caetité, na Bahia, em 12 de julho de 1900, foi um grande defensor do movimento da Escola Nova que foi criado pelo suíço Adolphe Ferrière e enfatizava o desenvolvimento do intelecto e a capacidade de julgamento, e não apenas a memorização defendida pelas instituições de ensino tradicionais.
Seu trabalho na reforma do sistema educacional da Bahia e do Rio de Janeiro, nos quais exerceu vários cargos executivos foi fundamental para o que viria a seguir: o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, que defendia o ensino público, gratuito, laico e obrigatório e foi divulgado em 1932 foi uma de suas principais bandeiras.
O Manifesto pregava a universalização da escola pública, laica e gratuita. Além de Teixeira, o educador Fernando de Azevedo (1894-1974), o professor Lourenço Filho (1897-1970) e a poetisa Cecília Meireles (1901-1964) estavam entre seus apoiadores. A atuação desses pioneiros se estendeu por décadas, inúmeras vezes criticada pelos defensores da escola particular e religiosa.
Esses primeiros defensores da escola pública influenciaram uma nova geração de educadores como Darcy Ribeiro (1922-1997) e Florestan Fernandes (1920-1995).
No Rio, Teixeira foi mentor e fundou a Universidade do Distrito Federal em 1935, que depois viria a ser a Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil (hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ).
A concepção de educação integral e para todos esteve presente em todos os escritos e ações realizados por Anísio Teixeira. Este conceito está na base de sua atuação como educador e sua contribuição para a educação brasileira é fundamental até os dias de hoje.
A educação integral e a educação pública no Brasil
Anísio inspirou-se nas ideias do educador norte-americano John Dewey (1852-1952), seu professor num curso de pós-graduação nos Estados Unidos. Dewey considerava a educação uma reconstrução da experiência, que requer um novo tipo de estudante, mais consciente e preparado para resolver seus próprios problemas.
O pensamento pragmático de Dewey combinado ao de Teixeira dizia que, na transição que o mundo vivia naquele momento, a escola deveria preparar os alunos pela via intelectual (por meio das ciências); industrial (tecnologia) e social (democracia).
Em sua estada nos Estados Unidos, Teixeira inspirou-se nas escolas comunitárias locais para a concepção de ensino de tempo integral. Entretanto, a jornada das escolas de lá dificilmente tinha mais do que seis horas diárias. De volta ao Brasil, pensou numa escola de pelo menos oito horas, que cuidasse de todas as necessidades deste aluno e futuro cidadão.
Para formar este novo cidadão e profissional, as escolas deviam estar preparadas para educar em vez de apenas instruir, além de instigar a liberdade de pensamento no lugar da passividade. Muitas das questões que a educação de hoje tem como foco, que é o preparo para um futuro incerto, eram também objeto de análise para o pensador-educador.
A felicidade e o bem estar dos estudantes também deveriam ter lugar na escola, para isso sendo necessário uma nova concepção da psicologia infantil.
Teixeira dizia que a compreensão dos conteúdos ensinados em sala de aula deveriam ocupar o lugar da pouco efetiva memorização. O educador acreditava que os estudantes só aprendem quando assimilam algo que, futuramente, poderão acessar e usar de acordo com o que lhes foi ensinado.
Para lidar com este novo aluno, o professor precisaria de novos elementos para muni-los de novos recursos, nova cultura e visão de mundo. Para tanto, instalou novos cursos para professores, defendendo a ideia de que cabia aos professores renovar ao humano para “a grande aventura de democracia que ainda não foi tentada”.
Essa democracia só teria lugar numa escola para todos, pública e em tempo integral. Um exemplo clássico foi a Escola Parque, que ele fundou em 1950 em Salvador e que serviu como inspiração para os Centros Integrados de Educação Pública (Cieps), no Rio de Janeiro, para os Centros Unificados de Educação (Ceus), em São Paulo e em outros modelos ao redor do país.
Teixeira acreditava que a escola pública devia se ocupar de todos os aspectos da vida de seus alunos e professores, desde os cuidados com a saúde até sua formação como cidadão, o que ele prega apaixonadamente em seu livro “Educação Não É Privilégio”.
A escola ideal para Teixeira deveria ser laica, obrigatória, integral e pública, além de estar preparada para atender aos interesses e necessidades de cada comunidade ou município.
O educador também defendia que o ensino deveria ser público até à universidade, e propôs a criação de fundos financeiros para a educação, nos moldes do atual Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).
Infelizmente, esse fundo até hoje é insuficiente para a manutenção da educação integral em todo o país, frustrando os sonhos do grande educador que foi Anísio Teixeira.
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