“Esse aluno é inclusão!” Essa frase se tornou bastante corriqueira nas escolas. Tão corriqueira que passamos a banalizar o que ela significa. Temos escutado, cada vez mais, falar sobre inclusão, diagnóstico, adaptação de material etc. Esses assuntos parecem remeter, automaticamente, à inclusão de pessoas com deficiência, principalmente, quando pensamos em escola.
No entanto, sabemos que o conceito de inclusão é mais abrangente do que possibilitar que alunos com algum diagnóstico estudem na mesma escola. Afinal, se “precisamos incluir um aluno, o que estamos fazendo com todos os outros?”.
Permitir que todos frequentem a mesma sala de aula é, de fato, condição básica para a escolarização contemporânea. Porém, sabemos também como esta é uma tarefa inglória, árdua e, por vezes, até vista como utópica.
Como é possível compreender a inclusão como a possibilidade de educar a todos, entendendo cada aluno como diferente, com suas habilidades e dificuldades, sem que isso implique julgamento em relação aos demais? Como enxergamos aqueles alunos ditos “difíceis”? Os autistas? Os alunos diagnosticados como hiperativos e com síndromes diversas. Como incluir os muito tímidos? Como ajudar os alunos com sintomas de depressão?
Alunos com altas habilidades? Diferenças sociais, culturais, religiosas? Como trabalhar com as questões de gênero postas atualmente? Tantas inclusões estão no dia a dia escolar! E, principalmente, como fica o professor com toda essa demanda? Parece fácil responder a essas perguntas, mas sabemos como é difícil tudo isso no dia a dia.
Sabemos que o movimento de luta pela inclusão teve muitos avanços nos últimos anos, mas muitas vezes uma questão principal ainda não é considerada: a necessidade da instituição escolar se modificar para dar conta das barreiras dos alunos e não o contrário. Lidar com a diversidade não é simples e sabemos disso.
Devido a essa dificuldade, ainda é comum vermos escolas particulares falando que não possuem condições para matricular determinado aluno, pois ele demandaria da instituição uma infraestrutura que não existe no momento. Diante dessas justificativas, perguntamos: será? O que tem sido entendido como inclusão?
Cada um e todos
O que é preciso fazer para que seja validado o direito adquirido de que todas as pessoas devem ter acesso, de modo igualitário, ao sistema de ensino? Não estamos negando que existem alunos com mais dificuldades em entender matemática, em compreender textos ou aqueles que não conseguem ficar muito tempo em sala de aula sem entrar em conflito com os colegas, mas a discussão que se coloca é a (im)possibilidade. O que tem sido esse “impossível” da inclusão?
Sabemos também que não se trata de onerar os professores pedindo a eles adaptações para cada um de seus alunos que, por algum motivo, trabalha de forma diferente dos demais ou ainda que, cada um desses alunos possuam um acompanhante escolar. Trabalhar nessas perspectiva é manter a dinâmica da integração e não a da inclusão.
Grosso modo, na perspectiva da inclusão, convidamos a todos que repensem formas diversas de aprendizado, as quais beneficiam o coletivo e permitam que todos aprendam.
Aqui, chegamos ao desafio principal de todos os educadores (gestores, professores, funcionários etc) em relação à educação inclusiva: entender que cada aluno possui suas especificidades e lidar com elas ao mesmo tempo em que lida com o coletivo.
O trabalho de incluir é o de transformar as instituições escolares em lugares que se permitam equilibrar essa equação; escolas que possam olhar para cada um de seus alunos, garantindo que todos convivam sem serem rotulados e julgados por suas diferenças, ao mesmo tempo que proporcionam atividades que sejam interessantes e desafiadoras para todos. Parece simples? Não, de fato não é nada simples!
Podemos pensar, como exemplo, em avaliações para os alunos. Sabemos que nem todos os nossos alunos terão resultados brilhantes em provas que exigem compreensão de textos longos e questões dissertativas.
Seria possível, por exemplo, alternar estilos de provas? Uma prova com longos textos e questões dissertativas, que possibilitará que os alunos com esta facilidade saiam-se muito bem.
Em seguida, no próximo bimestre, na próxima semana uma prova com textos menores, que abranja análise de figuras, de gráficos, respostas em itens e com mapas conceituais, sem deixar de abordar os textos, possibilitando assim, que outros alunos possam também brilhar nas provas de compreensão de texto?
Ou ainda, uma alternativa mais ousada, pensarmos em outras formas de avaliar as provas que não fosse dar ao aluno uma nota, uma classificação?
Para construirmos esses instrumentos, precisamos partir de outras premissas, diferentes das que temos partido na educação atual. Temos que nos perguntar sobre muitas coisas: quem é nosso aluno atual? O que deseja o professor? O que impõe a instituição? O que queremos ensinar (in-signar)? Uma escola inclusiva é mais fraca, produz alunos menos competitivos? Entre tantas outras perguntas…
Como construir essa escola de excelência? Formando os melhores alunos e tendo espaço para todas as diferenças? A Pós-Graduação em Inclusão: Práticas Inclusivas e Gestão das Diferenças busca pensar junto aos educadores (professores, gestores, funcionários e profissionais do terceiro setor) formas de garantir o direito que todos possuem a uma educação que se propõe igualitária, pensando em como trabalhar com as dificuldades e desafios de cada um e de que forma a escola inclusiva pode ser um caminho para a construção de uma sociedade que pensa a diferença não como uma desvantagem, mas como possibilidade de construir formas mais interessantes e ricas de convivência, cidadania e respeito.
Convidamos você, educador interessado nesse tema, a vir construir conosco uma forma diferente de fazer escola!
Fernanda de Sousa e Castro Noya Pinto, Nicole Crochick e Carolina Ramos Resende Videira são coordenadoras da Pós-Graduação em Inclusão: Práticas Inclusivas e Gestão das Diferenças do Instituto Singularidades
Para saber mais: www.institutosingularidades.edu.br
Entre em contato: [email protected]