A escola uniformizante, que oferece a todos os alunos o mesmo tipo de educação sem levar em conta suas diferentes personalidades e interesses soa cada vez mais obsoleta e não engajadora. Neste contexto, a Pedagogia Diferenciada oferece aos futuros professores vários insumos sobre a forma de tratar deste tema, preparando-os para lidar com as demandas de estudantes – e um mundo – em constante mutação.
Conversamos com o professor Francisco Manuel Ferreira, coordenador e professor do curso de extensão Pedagogia Diferenciada: Maximizando a Aprendizagem de Todos os Alunos, que nos conta como funciona o curso, seus objetivos e como desenvolver a potencialidade dos alunos-professores.
A proposta do curso é capacitar professores para entender cada aluno dentro de sua personalidade, estilo, interesse e ritmo de aprendizagem, tirando o melhor proveito desta heterogeneidade. Para tanto, quais ferramentas são usadas?
Para analisar as questões envolvidas na heterogeneidade das salas de aula e planejar atividades que respondam às demandas de aprendizagem dos alunos, é essencial construir um referencial teórico. Isso será feito por meio da leitura de textos de autores diversos e sistematização de suas principais contribuições.
Este referencial será utilizado na discussão de estudos de caso e de situações problema sobre a gestão de sala de aula (na forma de textos, imagens e vídeos), fazendo, desta forma, a ponte entre a teoria e a prática.
Este tipo de pedagogia ou abordagem pedagógica é bem pouco usada no Brasil, mas há alguns exemplos em andamento com muito sucesso. Como você vê as possibilidades profissionais para o professor que for capacitado neste curso de extensão?
A escola foi tradicionalmente pensada a partir da perspectiva do ensino, ou seja, a questão central estava no que ensinar e as diferenças nos perfis de aprendizagem eram irrelevantes, uma vez que o grupo de alunos era entendido como um conjunto relativamente uniforme.
Esta escola não só não dá conta das demandas de formação no mundo em que vivemos, como também não está de acordo com o que se conhece sobre os processos de aprendizagem de crianças e jovens, ou seja, a escola precisa urgentemente repensar-se se quiser manter a sua função social.
Neste contexto, os professores que desenvolverem competências e habilidades para entender os fatores que afetam a aprendizagem e fazer a gestão de sala de aula de forma a promover o aprendizado de todos os alunos serão profissionais cada vez mais solicitados.
Como os professores são treinados para lidar com as diferentes personalidades dos alunos em sala de aula, durante o curso?
As diferentes personalidades dos alunos inserem-se na dimensão interpessoal da aula. Todos os participantes deste contexto carregam expectativas, medos, aspirações e autoimagens. A formação do professor para lidar com essa dimensão interpessoal está ligada essencialmente à sua capacidade de leitura do que move os alunos, e da sua competência para planejar intervenções que gerem um vínculo de confiança.
Isto é alcançado por meio da observação de situações de aula, com foco na análise das motivações dos alunos para agir de determinada forma, e no planejamento de estratégias didático-pedagógicas que construam um ambiente de expectativas compartilhadas.
Qual o perfil do futuro professor que busca esta formação?
É um professor que essencialmente está disposto a repensar um modelo de escolarização predominante, que acaba produzindo o fracasso e a exclusão. Isto implica desconstruir concepções e ideias acerca da função social da escola, do papel do professor, do planejamento e organização dos conteúdos, do processo de aprendizagem e da avaliação.
Portanto, estamos falando de um profissional que está disponível para construir outra mentalidade acerca do que significa ensinar e aprender, do que mobiliza os alunos, de como aprender com a diferença, de como avaliar o avanço dos alunos.
Qual ganho a escola pode obter da adoção da pedagogia diferenciada, tanto do ponto de vista de construção coletiva do conhecimento quanto da atração de novos alunos?
Ao adotar a pedagogia diferenciada como filosofia de trabalho, a escola passa a ter como referência a aprendizagem dos alunos, e vai construir um corpo de conhecimento acerca de como os seus alunos aprendem, que tipo de intervenção didático-pedagógica favorece essa aprendizagem, como lidar com a diversidade existente em qualquer grupo.
A troca entre professores é fundamental para que cada um possa olhar de forma reflexiva para as suas práticas, interagir com outras perspectivas e, eventualmente, deslocar-se do lugar em que se encontra.
A escola vai ser reconhecida como um ambiente em que todos os alunos aprendem, um ambiente que valoriza e trabalha com a diferença a serviço da maximização do potencial de cada um (reconhece e apoia a singularidade dos percursos dos alunos, sem deixar que eles se acomodem em uma zona de conforto). Um ambiente escolar em sintonia com as demandas do seu tempo e com os conhecimentos atuais sobre o processo de aprendizagem dos alunos é uma escola que vai atrair muitas pessoas.
Francisco Manuel de C. C. Ferreira é formado em Letras (Português e Inglês) pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em Língua Inglesa e Literaturas Inglesa e Norte-Americana pela mesma universidade. É coordenador e professor do curso de extensão “Pedagogia Diferenciada: Maximizando a Aprendizagem de Todos os Alunos, no Instituto Singularidades”
Para saber mais: http://institutosingularidades.edu.br/novoportal/produto/pedagogiaex/
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