Os licenciados em Letras só podem dar aula, em escolas públicas ou privadas? Existem outras possibilidades para estes futuros professores? O coordenador da graduação em Letras do Instituto Singularidades, Marcelo Ganzela conversou com alguns professores da área que atuam em diferentes setores, do público à produção de materiais didáticos, e obteve deles dicas e observações importantes para quem pensa em ingressar nesta carreira, mas ainda não conhece todas as possibilidades disponíveis. Confira e inspire-se!
Setor público – Maurício Canuto
Maurício é professor da Licenciatura em Letras e da rede pública municipal da cidade de São Paulo. Começou sua carreira há quase 10 anos, nesta área onde vem atuando principalmente no Fundamental 2.
Também atua em outros setores do serviço público, como na gestão de um Centro Educacional Unificado (CEU), que tem 46 unidades no município paulistano, e como assistente de direção numa escola na região do Jaraguá (região oeste de São Paulo).
Quando se fala em setor público, é importante lembrar que ele abarca diversas esferas: o profissional pode trabalhar em redes municipais, estaduais e nos institutos federais, em todo o Brasil. O ingresso para todas elas envolve concurso público.
“Na cidade de São Paulo, por exemplo, o acesso é feito por concurso público, no qual você é habilitado por meio do curso de letras, passando por diversas provas”, explica o professor.
Uma vez que tenha passado no concurso, o professor poderá exercer funções dentro do serviço público, destinadas à área de educação, como coordenação dentro de escolas e CEU’s (no caso de São Paulo) e assistente de direção, ou seja, áreas mais voltadas à gestão.
“Eu tive a oportunidade de trabalhar como coordenador de educação dentro de um CEU como gestor, mantendo o meu cargo enquanto professor na rede municipal. Após isso, fui recentemente convidado para poder ser assistente de direção em uma escola também”, conta Maurício.
Perguntando por Marcelo sobre outras áreas possíveis no setor público, o professor conta que há também os cargos técnicos, nos quais o formando pode ser convidado a compor uma direção regional, trabalhando como áreas pedagógicas, áreas técnicas, ligadas à demanda do aluno e aos processos das escolas, ou seja, políticas públicas de verdade.
Nas redes municipais e estaduais, conclui Maurício, existem também as figuras do professor orientador de sala de leitura e professor orientador de informática educativa, que são duas funções que você pode exercer além de ser professor em sala de aula.
Educação não-formal (Márcia Pereira)
Também professora da faculdade de Letras no Singularidades, Márcia se licenciou em português-inglês, em seguida fez um mestrado em educação, com foco em ensino de literatura e, por fim, um doutorado em estudos literários com foco em literatura brasileira contemporânea.
Ela atuou no estado durante um tempo e, de alguns anos para cá, vem atuando no ensino superior.
Márcia é responsável pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) no Singularidades, que oferece bolsas para os iniciantes na docência.
“A ideia do programa é que o aluno vivencie o lecionar na prática, por meio de uma bolsa e sob a orientação de um coordenador, que no caso sou eu”, explica.
Marcelo pergunta a ela quais as oportunidades do profissional de Letras fora do formato em sala de aula, não necessariamente na escola.
“Existem várias formas. Quando eu fui a campo durante a minha pesquisa de doutorado, percebi que as possibilidades que essa área tem são muitas. A gente acha que é só a docência, que já é o bastante, o mercado editorial , a revisão e a tradução estão disponíveis para a gente, mas eu pude vivenciar esta efervescência das letras na prática, mesmo. Então, a gente tem vários segmentos culturais acontecendo na cidade de São Paulo (e também em outros estados) que demandam um profissional da área”, analisa a professora.
Entre as instituições que a professora lista como promotoras de eventos ou cursos que demandam formados em Letras estão as unidades do Serviço Social do Comércio (Sesc) em todo o Brasil).
“O Sesc tem várias coisas interessantes que sempre pedem um educador, uma curadoria para determinado acontecimento. Além disso, eles promovem práticas de leitura, bate-papos e tertúlias literárias que carecem de um mediador, e normalmente ele será alguém da área de Letras”, revela.
Além desta instituição super rica em iniciativas, Márcia comenta um fenômeno que tem crescido nas grandes e médias cidades, e que representa uma oportunidade interessante para os formandos, as oficinas de criação literárias.
“Isso está com tudo, e cada vez mais se pede uma formação específica na área de Letras para trabalhar com escrita literária. E há campo nesta área também em ONG’s, escolas, cursos livres, ou seja, existe um campo vasto a se explorar”.
Márcia relata também que a atuação do professor de letras na cultura popular e nas periferias é uma realidade interessante. Ela conta que os alunos do curso de Letras do Singularidades já participaram do SLAM Interescolar, que é um concurso de rimas e versos (que podem ser consideradas “primas” de outra expressão popular que nasceu nos Estados Unidos e se espalhou pelo mundo, o rap). Nesta área é possível trabalhar tanto na organização, na mediação e até como orientador das poesias dos alunos.
“Tem inclusive algumas agências de fomento que investem neste tipo de iniciativa da área de cultura e que, de novo, pedem uma pessoa com formação específica”, comenta a docente.
Márcia salienta que esta grande agitação cultural que acontece nas grandes e médias cidades na área de literatura é muito ampla. Ainda na periferia, na cidade de São Paulo, há a Coperifa, entidade difusora de cultura e resistência para a comunidade da Zona Sul paulistana.
Cita também os Mesquiteiros, do Rodrigo Ciríaco, que demandam espaços e pessoas com formação em Letras para seguir seu trabalho inclusivo e inovador.
Português para Estrangeiros (Olívia Yumi Nakaema)
A professora Olívia Yumi Nakaema estudou Letras-Japonês, fez mestrado em Língua e Cultura Japonesa na terra de seus antepassados e atualmente é doutoranda na área de Linguística.
Ela conta que sua aproximação com o português para estrangeiros se deu quando começou a dar aulas de japonês e de português nas escolas.
“Quando fui fazer o mestrado no Japão, tive a oportunidade de ensinar nossa língua para os japoneses nas escolas de línguas de lá”, relembra.
O coordenador Marcelo pergunta onde o formado na graduação em letras pode encontrar oportunidades nesta área, colocando seu conhecimento em favor deste tipo de ensino.
Olívia responde que, no caso de alunos que vão viver no Brasil, eles têm um campo de atuação bastante amplo, que cresce cada vez mais com a vinda de estrangeiros para o país, seja por meio de profissionais de outros países que vêm trabalhar aqui, casamentos internacionais, ou a vinda imigrantes e refugiados, como tem acontecido mais recentemente.
No caso de alunos que pretendem deixar o país, com o conhecimento da língua que eles têm, é possível ensinar português em qualquer lugar do mundo.
Há também a oportunidade de lecionar em empresas que contratam funcionários estrangeiros (os chamados expatriados).
“Hoje muitas empresas têm este tipo de funcionário que precisa aprender a língua local para trabalhar e para se adaptar, mas o professor tem outra tarefa aí, que é ajudar a acolher a família deste profissional, que estará passando por uma adaptação semelhante”, esclarece.
Marcelo relembra que, mesmo que o professor não escolha lecionar uma língua estrangeira, ainda nas escolas normais ele poderá se deparar com alunos vindos de outros países. Olívia responde que esta situação é cada vez mais frequente no Brasil, não só na escola pública como na privada.
“Alunos imigrantes como coreanos, chineses, japoneses, sírios, bolivianos, haitianos e venezuelanos crescem em grande número nas escolas brasileiras. Atendê-los da melhor forma possível é uma missão do professor, então ele tem um papel muito importante neste acolhimento. Toda a adaptação naquele país vai depender de como ele é acolhido na escola e na comunidade”, reforça a professora.
O Instituto Singularidades é uma das poucas faculdades no Brasil a oferecer um projeto de extensão de ensino de português a imigrantes e refugiados, coordenado pela professora Olívia. Além de uma incrível oportunidade profissional, é um trabalho humano enriquecedor e gratificante.
Setor Privado (Dayse Ramos)
Dayse atua em escolas privadas desde 2009, no caso, numa grande escola da cidade de São Paulo.
Ela fez a graduação em Letras-Italiano, tem mestrado na área de Italiano, mas desde a época que começou na escola privada tem lecionado apenas na língua materna.
A professora analisa sua experiência na escola privada como um mergulho em dinâmicas próprias, muito diferentes, mas tão gratificantes quanto as da escola pública.
Se na última faltam elementos necessários para uma aula mais rica, na segunda eles estão à disposição do professor.“Na escola privada você consegue explorar estes recursos importantes para uma reflexão sobre o ensino”, compara.
Marcelo pergunta-lhe quais são as possibilidades dentro da escola privada para o formando em Letras, se há uma divisão de frentes. Dayse responde que a primeira coisa é a divisão na especificidade do professor de português.
“Normalmente as escolas, no ensino médio, dividem em frentes de literatura, análise linguística e produção de texto. Algumas escolas casam a análise linguística com a literatura, deixando a produção de texto. No ensino fundamental as matérias estão juntas”, comenta a professora.
Dayse diz que além da sala de aula, a escola privada também oferece ao formando em Letras a oportunidade de atuar como revisor de textos. Algumas escolas grandes têm um departamento de publicações (apostilas, folders etc), então este profissional pode atuar também com funções que envolvam redação e revisão.
Marcelo comenta que nas escolas particulares há planos de carreira, uma possibilidade de ingresso até antes da formatura do professor, e pergunta quais seriam as possibilidades do formando neste ambiente escolar.
Dayse diz que a atuação desde a graduação é super importante para que este aluno chegue na escola e se coloque, porque o estágio geralmente é o caminho para se tornar professor nestas instituições.
“Eu trabalho numa escola, por exemplo, em que os professores-tutores, que são os professores formados, contam com estagiários que os auxiliam, e muitos são contratados ao fim do estágio. Ou seja, há um reconhecimento de que esta pessoa passou por uma experiência e agora está apta a trabalhar lá”, revela.
Dayse conta que outra área possível de atuação é a coordenação, na parte de organização de linguagens, ou seja, o aluno deve saber outras disciplinas além da língua portuguesa. Há também a atuação em bancas de redação, que é um caminho interessante.
Marcelo pergunta sobre o processo seletivo nas instituições privadas, e como o Singularidades é reconhecido nelas. “Normalmente, os processos seletivos das grande escolas começam pelos departamentos de Recursos Humanos (RH’s), via Linkedin. É importante, por isso, que o formando ou estudante já faça o seu perfil profissional, converse com os RH’s, porque todos os processos funcionam mais ou menos da mesma forma. São dinâmicas, agora mais interessantes que as de outros tempos, com professores de todas as áreas”, explica Dayse.
A professora complementa que estes processos incluem também testes psicológicos (como os psicotécnicos) e já não há a obrigatoriedade de se dar uma aula. “A conversa com o RH e uma prova substituíram esta parte”, diz ela.
Sobre os egressos no curso de Letras Singularidades terem mais chances na escola privada, Dayse é certeira. “Os nossos egressos têm mais chance sim, porque uma preocupação do Singularidades desde o primeiro semestre é unir a questão pedagógica com a formativa, uma sempre casada com a outra. Outro ponto são os estágios, que acontecem desde o primeiro semestre, e é isso que as escolas querem: um professor que saiba dar aula, entenda de metodologias ativas, mas que saiba fazer, por ter uma base e haver construído um percurso formativo completo”.
Material didático e conteúdos digitais (Andréa Alencar e Jordana Thadei
As duas professoras têm trajetórias diferentes e, ao mesmo tempo, semelhantes. Andréa é formada em Letras e fez mestrado em Linguística Aplicada.
Já Jordana é pedagoga com mestrado na mesma área que Andréa. Ambas acumularam anos trabalhando no ensino público (Jordana na educação básica e na de Jovens e Adultos – EJA).
Ambas hoje, além de serem professoras no Instituto Singularidades, também atuam na área de produção de material didático em editoras, revisão, avaliação, reformulação, produção preparação de textos. Jordana é autora de alguns livros e trabalha com mediação de cursos a distância, assim como Andréa.
Marcelo comenta que é interessante observar, na trajetória de ambas, como a carreira em Letras pode transcender a sala de aula. Andréa trabalhou na editora Globo antes do mestrado e diz ter tido ali uma oportunidade muito rica.
“Eu acho que quando a gente faz o curso de Letras, ganhamos uma base muito bacana e importante, que vai nos ajudar bastante a entender este ofício como um todo”, analisa. Andréa conta que o profissional de Letras que opta por este caminho pode trabalhar tanto em editoras quanto em casa, fazendo revisão textual e preparação de textos.
Jordana ressalta que o conceito de revisão é muito mais amplo que o livro didático propriamente. “Quando a gente pensa em material didático, pode ser um livro, mas também um fascículo ou outro material para um eixo do ensino da língua”, explica.
Além dos meios tradicionais, o on-line tem crescido como área de atuação para produtores de conteúdo, revisores e tutores de cursos a distância, relembra Marcelo. Jordana conta que muitos profissionais desta área estão fazendo esta travessia agora.
“Passamos muitos anos preparando o impresso, hoje em dia já existe uma demanda por objetos digitais de aprendizagem. É uma outra área que vai abrindo e a gente vai migrando de uma coisa para a outra, também”.
A partir deste material acaba-se trabalhando também a parte de tutoria, conta Andréa. “Como tutores, que é um campo muito importante dentro da educação on-line, muitas vezes a gente tem o material, tem o curso pronto, mas temos de ter a compreensão global da mediação, seja em fóruns ou em cursos.”
Ambas as professoras relatam a importância do trabalho em equipe nesta área de atuação do profissional de letras. “Aqui no Singularidades a gente tem essa questão bem forte, porque trabalhamos com os nossos alunos fazendo essa interrelação para poder desenvolver trabalhar em time, e isso no mercado profissional é muito importante”, conclui Jordana.
Gostou das análises dos nossos professores e de saber de que além da sala de aula – e mesmo dentro dela – existem várias opções de atuação para o profissional de Letras? É uma área muito rica e gratificante, e o Instituto Singularidades espera por você nesta jornada de mergulho no conhecimento e na prática.
Marcelo Ganzela é mestre em Letras pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), especialista em docência para a língua inglesa e licenciado em Letras pela mesma instituição. É coordenador do curso de Licenciatura em Letras do Instituto Singularidades e o mediador deste bate-papo com os professores que você acabou de ler.
Para saber mais: http://institutosingularidades.edu.br/novoportal/produto/letras-graduacao/
Entre em contato: [email protected]