Criador de um método de alfabetização revolucionário, Paulo Freire teve seu nome reconhecido como um dos mais importantes educadores do mundo e influenciou o movimento conhecido como pedagogia crítica. É também o Patrono da Educação Brasileira.
Nascido Paulo Reglus Neves Freire no Recife em 1921, ele fazia parte de uma família de classe média. Era filho de um capitão da Polícia Militar, Joaquim Temístocles Freire, e de Edeltrudes Neves Freire, conhecida como Dona Tudinha.
A família era composta ainda por uma irmã, Stela, que foi professora primária, e dois irmãos, Armando, que foi funcionário da prefeitura do Recife, e Temístocles, que entrou para o exército.
Mesmo vindo de uma família com uma condição financeira suficiente para manter a todos, os Neves Freire sofreram os efeitos da crise de 1929, chegando a passar grandes dificuldades financeiras neste período, o que influenciaria muito a visão de mundo do filho mais velho e o método de alfabetização que ele viria a criar muitos anos depois.
Em 1943, aos 22 anos, Freire entrou para a Universidade do Recife para cursar Direito, mas acabou também estudando filosofia da linguagem, o que seria decisivo em sua trajetória profissional: nunca advogou e optou por ser professor numa escola de segundo grau (hoje ensino médio), onde lecionava língua portuguesa.
Um ano após ingressar na universidade, casou-se com a colega de trabalho Elza Maia Costa de Oliveira, com quem esteve até a morte dela, em 1986. Anos mais tarde, casou-se pela segunda vez com Ana Maria Araújo, a Nita, sua conhecida desde a infância em Pernambuco e sua orientanda no mestrado em educação na Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC-SP), onde foi seu professor.
No início dos anos 60, o educador tornou-se diretor do Departamento de Extensões Culturais da Universidade do Recife e também realizou suas primeiras experiências de alfabetização popular que culminariam na criação de seu método. Em apenas 45 dias, ele e seu grupo foram responsáveis pela alfabetização de 300 cortadores de cana na cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte.
Sua metodologia trabalhava com expressões presentes na rotina dos trabalhadores, como o nome das ferramentas que usavam, como “cana”, “faca”, “salário”. por exemplo. Tida como um exemplo de sucesso na alfabetização em massa, a experiência inspirou o Plano Nacional de Alfabetização, que foi planejado pelo então presidente João Goulart, e infelizmente arquivado e esquecido depois do Golpe de 1964.
O Método Paulo Freire e a Pedagogia do Oprimido
A prática didática criada por Freire permitia que o estudante seguisse e criasse o seu próprio rumo de aprendizado, formando consciência de classe e, consequentemente, política.
Freire nunca escondeu sua crença de que a educação era uma ferramenta de transformação social, o que o governo militar viu com uma ameaça ao status quo, que permitiria que os oprimidos se revoltassem.
O aumento do número de eleitores – uma vez que apenas os alfabetizados podiam votar – era outra preocupação dos militares.
Há registros de que uma greve de trabalhadores em Angicos, a cidade onde foram alfabetizados seus primeiros alunos, aconteceu devido ao fato deles terem tido contato com a pedagogia freiriana.
Dizia-se que, ao ensinar a escrever a palavra “trabalho”, aconteciam discussões sobre o assunto, inclusive sobre artigos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Por tudo isso, Paulo Freire foi considerado inimigo do estado e mandado ao exílio.
Em seu livro Pedagogia do Oprimido, publicado em 1969, o educador propunha um método de alfabetização democrático, diferente do que ele chamava de “educação bancária”, aquela que preparava apenas para o trabalho. O livro foi publicado em várias línguas como espanhol, inglês, francês e hebraico.
Freire acreditava que a educação trata-se de um ato político, que não pode ser separado da pedagogia. Em sua opinião, este era princípio fundamental da pedagogia crítica, que alunos e professores estivessem cientes das políticas que estão ao redor da educação.
Durante os 15 anos do exílio, Freire esteve em diversos países, a convite de universidade, governos, movimentos sociais e igrejas.
De volta ao país em 1980, um ano após a anistia, ele passou a lecionar na Faculdade de Pedagogia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e na Universidade de Campinas (Unicamp).
Entre 1988 a 1991, foi secretário municipal de Educação na gestão de Luiza Erundina na prefeitura de São Paulo e responsável por impulsionar a educação de jovens e adultos iletrados.
Freire é o brasileiro que mais recebeu títulos honoris causa na história da educação mundial, tendo sido homenageado em pelo menos 35 universidades brasileiras e estrangeiras. Além disso, mais de 350 escolas ao redor do mundo levam seu nome.
Vítima de um ataque cardíaco, Paulo Freire morreu em 2 de maio de 1997, aos 76 anos, em São Paulo. Em 2009, o Estado Brasileiro ofereceu à sua viúva e família o perdão post mortem, assumindo o pagamento de reparação econômica, devido aos anos vividos fora do país.
Seu legado é gigantesco em nível global, e existem escolas em todos os continentes que continuam utilizando a metodologia de ensinar por meio da vivência do aluno. Em meio a tantas polêmicas entre seus admiradores e detratores, a figura de Paulo Freire continua firme no panteão da educação.
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