Conhecida e usada em todo o mundo, a metodologia Montessori teve seu início na Itália. Tida tanto como uma filosofia da educação como uma metodologia, ela foi desenvolvida pela educadora, filósofa, psicóloga e médica Maria Montessori, tendo como ponto de partida suas experiências iniciais, realizadas com crianças que viviam sob risco social em seu país de origem.
O respeito pelas crianças e por sua capacidade de aprender é a base da criação deste pensamento, que oferece aos alunos da educação infantil a oportunidade de usar a liberdade desde os seus primeiros anos de desenvolvimento.
Nascida em 1870 na cidade de Chiaravalle, na província de Ancona, Maria era parte de uma família tradicional italiana, católica e burguesa. Renilde Stoppani, sua mãe, era dona de casa, enquanto seu pai, Alessandro Montessori, era militar. Naquela época, poucas profissões estavam disponíveis às mulheres. A maior parte delas tornava-se professora, e na família Montessori esse direito à educação das mulheres foi, felizmente, respeitado.
Mas Maria queria ir além de tornar-se docente. Aos 14 anos, estudou engenharia, depois biologia e, em seguida, foi aceita pela Escola de Medicina da Universidade de Roma. Embora seu pai tenha se mostrado contrário num primeiro momento, ela se formou em 1896 como a primeira médica do sexo feminino na Itália, o que foi um grande orgulho para a família.
Maria tornou-se membro da Clínica Psiquiátrica da Universidade de Roma. Interessada em aprofundar seu conhecimento a respeito de outros aspectos da mente humana, também estudou Antropologia e obteve um PhD em Filosofia, durante o qual participou de um dos primeiros cursos de psicologia experimental. Contemporânea de Freud, ela desenvolveu também sua própria classificação de doenças mentais.
A educadora deixou a Itália em 1933, quando o regime de Benito Mussolini – cujas ideias ela não apoiava – fechou suas escolas. Foi viver em Barcelona por um tempo, e depois se estabeleceu na Holanda, com seu marido e filho. Retornou à Itália em 1947, após a queda da ditadura, para ajudar a reorganizar as escolas e retomar as aulas na Universidade de Roma.
Maria se interessava pela educação de crianças carentes e com deficiências mentais, tendo aplicado métodos experimentais para que elas aprendessem a ler e a escrever. Curiosa e dedicada, desenvolveu seus próprios métodos, que depois foram aplicados a todos os tipos de crianças.
Por meio de sua prática profissional, Maria chegou à conclusão de que as crianças “se constroem” a partir de elementos do ambiente e, para prová-lo, retornou às salas de aula da universidade para estudar psicologia. Em 1906, ela fundou a Casa da Criança e desenvolveu o que, mais tarde, seria chamado de método de ensino Montessori.
Todas as suas teorias foram baseadas em suas observações sobre o que os pequenos fazem sozinhos, sem a supervisão de adultos. Tendo como premissa a constatação de que as crianças são os seus próprios mestres e, para aprender, precisam de liberdade e múltiplas opções, Maria Montessori usou todas as suas ferramentas e experiências para reformar a metodologia e a psicologia educacional.
Em 1949, a educadora se estabeleceu permanentemente em Amsterdã, e nesse ano publicou seu livro mais conhecido, A Mente Absorvente. Em 1950, ela foi nomeada médica honorária pela Universidade de Amsterdã e, dois anos depois, aos 82, Maria Montessori faleceu em Noordwijk, também na Holanda.
O Método Montessori
Nos dias de hoje, compreender o impacto da metodologia de Maria Montessori na renovação dos métodos de ensino no início do século XX é algo bem diferente do que aconteceu quando foi criado, nos anos 50. Ainda que tenham causado estranhamento e controvérsia à época de sua criação, atualmente a maioria de suas ideias podem parecer óbvias e até mesmo simples para muitos educadores.
Maria partiu do pressuposto de que a mente infantil possui uma capacidade única: adquirir conhecimento por meio da “absorção” de suas experiências. Segundo ela, os pequenos aprendem tudo de forma inconsciente, passando pouco a pouco para a consciência, avançando por um caminho de alegria e descobertas.
Os pequenos, na visão montessoriana, são comparados a uma esponja, com a diferença de que este objeto tem uma capacidade de absorção limitada. Já a mente da criança seria infinita, e o conhecimento entraria em sua cabeça simplesmente vivendo. Daí veio sua teoria da “mente absorvente”.
Desta forma, passou-se a entender que o primeiro período do desenvolvimento humano é o mais importante, por ser quando a criança tem maior necessidade de ajuda. Este ato de ajudar não acontece porque o aluno é considerado um ser impotente, mas o contrário: dotado de grande energia criativa e de uma natureza ímpar, que pede um direcionamento amoroso e inteligente por parte do educador.
Outra característica muito importante da metodologia Montessori é o ambiente preparado e organizado para incentivar o autoaprendizado e o crescimento. A arquitetura e o design das escolas Montessori se calcam nos princípios de simplicidade, beleza e ordem. São espaços luminosos e aconchegantes, que incluem diferentes formas de materiais, plantas, música, livros e arte.
É por meio da interação com esse ambiente que serão desenvolvidos aspectos sociais, emocionais e intelectuais, em um lugar que garanta ordem e segurança. As características deste lugar permitem que a criança se desenvolva sem a assistência e supervisão constante de um adulto.
Na metodologia Montessori, o papel do adulto é guiar a criança e fazê-la transitar por este ambiente de forma respeitosa e afetuosa, sendo um sujeito consciente e em contínuo aprendizado e desenvolvimento pessoal.